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Disclaimer:
“Other World” é uma web-série independente, cuja a autoria
pertence à Lilian Kate Mazaki, publicado originalmente no blog
http://otherworld-serie.blogspot.com.br
Other
World – Capítulo 10
O
Sistema Delta
por Lilian Kate Mazaki – março
2014
Os recrutas tiveram que acelerar o
passo para acompanhar a instrutora Nadia. Esta marchava pelos
corredores, com passos ágeis, sem olhar para os jovens. As conversas
e perguntas feitas uns para os outros ressoavam pelas paredes que
misturavam metal e pedra de maneira harmônica. Depois de dez minutos
a mulher enfim parou diante de uma sala fechada e aguardou os
retardatários se aproximarem do amontoamento:
― Esta será a sala de treinamento
prático de vocês. ― informou ela. ― Hoje iremos apenas
demonstrar as tecnologias que vocês irão ter que aprender a lidar,
mas mesmo assim terão que ficar em pé e enfileirados para receber
as informações. ― disse e num movimento a porta de aço se
abriu.
A sala, ou melhor, salão, parecia ter
tamanho o suficiente para comportar um estádio de futebol inteiro
dentro. Muito bem iluminado e com uma das paredes completamente feita
do vidro de proteção grosso que se via nas janelas da base,
permitindo uma visão privilegiada de quilômetros sem fim da
paisagem desértica que cercava as instalações. Nadia rumou para o
palco localizado numa das extremidades do local enquanto os jovens se
organizavam:
― Vamos lá, vocês não sabem fazer
fileiras? ― reclamou a instrutora devido à demora dos recrutas, em
grande parte causada pelo fascínio da paisagem sobre uma parcela
grande do grupo.
Juliana acabou ficando em uma posição
privilegiada, à frente de uma das fileiras centrais, à poucos
metros de Nadia, que caminhava de um lado para o outro, procurando e
apontando locais de desorganização. A ruiva estava um tanto mais
ansiosa do que ela mesma esperaria. Admitia que essa sensação era
influência de alguns comentários que escutara durante o caminho. As
palavras ainda ressoavam na sua mente:
“Parece que finalmente vamos ver com
nossos olhos o trunfo final de Jonny Lake”
“Fábio, você está querendo dizer
que os equipamentos secretos dos Soldados Delta também foram
desenvolvidos pelo Dr. Lake?”
“Isso mesmo, Daniel. O grande
segredo que Gustavo Barbosa usou para convencer mesmo a ONU sobre a
viabilidade do Plano. O uso mais fantástico do sistema HNI. Estou
ansioso para ver com meus olhos.”
Juliana não compreendia bem, mas a
chance de ver o resultado do trabalho ao qual seu pai se esforçara
durante tanto tempo havia lhe trazido de volta para a realidade muito
mais do que qualquer coisa desde a tragédia no apartamento
quinhentos e sete. Pela primeira vez não era insuportável pensar em
algo relacionado aos seus pais, pelo contrário. A ruiva queria ver,
tocar, entender o trabalho que a fizera ver o pai tantas vezes chegar
quase de madrugada em casa e sair todos os domingos bem cedo para o
laboratório. Era como se, seja lá o que fosse aquele equipamento
secreto, ele fosse uma parte com algum significado em sua própria
vida:
― Nossa, então você já é da
equipe de programação da OMM, mesmo sendo tão jovem? Como
conseguiu isso? ― perguntou Thales, que estava posicionado logo
atrás de Juliana.
― Digamos que eu provei para eles
que tenho meu valor. ― respondeu Mari, que estava logo na fileira
do lado esquerdo, à três lugares da ponta. O garoto parece
interessado em fazer mais perguntas, mas neste momento a instrutora
chamou a atenção dos recrutas, para enfim dar início às
instruções da parte práticas do treinamento.
― Recrutas, como já foi dito antes,
eu sou Nadia Rock, uma das pessoas que vai acompanhar o
desenvolvimento das atividades práticas do Plano de Treinamento dos
Soldados Delta. Junto ao instrutor Basil Vieira, iremos passar-lhes
todos os ensinamentos e técnicas necessárias para que sejam
soldados com plenas capacidades de participar das explorações pelo
território do Outro Mundo, assim que completarem seus dezoito anos.
A plateia apenas ouvia a mulher, se
que quaisquer conversar paralelas fossem notadas:
― Hoje iremos apresentar e
demonstrar todas as funcionalidades dos equipamentos mais avançados
já desenvolvidos pelo Homem para a sobrevivência e exploração de
ambientes hostis. Estou falando do kit completo de vestimentas,
ferramentas e acessórios que a OMM vem desenvolvendo desde sua
fundação para o uso dos Soldados Delta. Por favor, instrutor Basil,
pode entrar.
Neste momento, vindo de uma porta
atrás do palco surgiu um homem alto, de cabelos escuros e curtos. A
medida em que ele se aproximou da ponta do palco, os olhares dos
jovens recrutas sob ele se tornaram mais impressionados. Isso porque
ele não estava trajando o mesmo macacão cinza escuro que Nadia
vestia. Era uma roupa completamente diferente disto. Um traje.
De maneira simplificada tratava-se de
um colante de um tom cinza arroxeado, muito escuro, que lhe cobria os
corpo inteiro. Por cima do material, que passava a impressão de ter
uma textura escamosa, haviam luvas e botas grossas, igualmente
modeladas aos seus membros, além de uma proteção nos quadris,
ligada a um cinto fino mais proeminente. A gola do tecido escuro ia
até o alto do pescoço do homem.
“Esta, recrutas, é a vestimenta
básica oficial das tropas da Organização Mundial de Exploração
do Outro Mundo, os Soldados Delta. Ou seja, será o uniforme dos que
obtiverem sucesso no treinamento dos próximos dois meses.”
declarou Nadia Rock, com um sorriso de satisfação inegável no
rosto. Parecia que ela sentia a mesmo fascínio do que aqueles jovens
que viam pela primeira vez o traje.
“Claro, esta é apenas a parte mais
básica do equipamento dos Delta. Um tecido impermeável, totalmente
maleável, com proteções de temperatura, pressão, corte e até
certo ponto, impacto. É sobre esta vestimenta que todo o corpo de
equipamentos de altíssima tecnologia da OMM vai operar, através do
comando do soldado.”
“Vejam
esta pequena maleta.” disse Nadia, pegando um pequena maleta preta
que estava posicionada a um canto do palco e erguendo-a para que
todos os recrutas a vissem. “Dentro desta modesta mala, está todo
o equipamento de combate e sobrevivência dos Delta. O principal
objetivo deste treinamento intensivo de dois meses é que vocês
aprendam a utilizar com excelência este pequeno maquinário.”
“Como já foi dito pelo próprio
General Barbosa, o motivo de vocês, mesmo tão jovens, terem sido
selecionados para o Plano, é a capacidade nativa de cada uma de
vocês possui por carregar um HNI desde os três meses de vida. Todos
vocês, sem exceção, tem capacidade plena de utilizar o melhor
deste equipamento muito melhor do que todos nós, atuais instrutores
e forças básicas de proteção da Base. Espero que cada um aqui que
esteja determinado a ser um Delta veja este equipamento como o real e
maior motivo para ter o HNI no cérebro. Só quem pensar assim
chegará ao limites do ser humano.”
Os jovens pareciam hipnotizados pelas
palavras de Nadia. Basil observava os rapazes e moças ali, em pleno
crescimento, e também foi tomado pelo sentimento de total certeza de
que aquele era o futuro do desenvolvimento humano, guiado por aqueles
que ainda era crianças, mas que em breve se tornariam soldados.
― Basil, vamos mostrar agora para
eles o que de bom tem aqui. ― disse Nadia, entregando a maleta para
o colega. Basil aceitou o objeto e o apontou para frente num ato
quase teatral, enquanto Nadia se dirigiu até a porta atrás do
palco.
― Vejam, recrutas, é isto que lhes
pertencera em breve. ― disse ele, com sua voz muito grave, abrindo
a maleta na vertical.
Mesmo os recrutas nas primeiras
posições das fileiras não compreendeu a princípio o conteúdo que
se revelou da maleta. Pareciam um pequeno conjunto de acessórios
estranhos, encaixados na espuma de proteção. Pareceu que os mais
curiosos iriam quebrar o silêncio da plateia, porém algo aconteceu
antes disso.
Os
pequenos equipamentos dispararam no ar, para frente, fazendo várias
garotas soltarem exclamações de surpresa. No momento seguinte, em
um movimento veloz, as pequenas peças se voltaram para Basil, que
largou a maleta de lado e esticou os braços para os lados. Foi então
que os equipamentos foram se encaixando em diversas partes do traje
básico do instrutor, como ao redor dos pulsos, tornozelos, próximo
aos cotovelos e joelhos. Depois desse encaixasse, num movimento
autônomo, hastes se esticaram entre algumas destas pequenas partes,
os unindo e, por fim, se ajustando de modo perfeito aos membros do
homem. Todo o processo durou menos quinze segundos.
― Este é o “Sistema Delta”. ―
disse Nadia Rock, que voltava para o lado de Basil, trazendo consigo
o que pareciam ser duas partes maiores daquele equipamento. ― O
grande projeto da vida de Jonny Lake e Jonanthan Alabart .
“O controle de todo o equipamento é
feito através de uma interface direta com o HNI, em conjunto com a
ação de nanorobôs instalados na corrente sanguínea do soldado.”
continuou ela. “Este equipamento interage com a energia gerada pela
própria máquina humana, além do campo magnético que as interações
do HNI com os nanorobôs gera. Não pensem que estou exagerando
quando digo que, com um treinamento intensivo, vocês se tornaram
capazes de feitos antes atribuídos apenas aos super-heróis da
ficção. A potencialização da máquina humana, através deste
sistema, pode chegar em até quatrocentos por cento, segundo os
estudos e projeções que Jonny Lake deixou como legado para a OMM.”
― Bom, ainda tem dois itens
obrigatórios do sistema, mas que não fazem parte dessa parafernália
maravilhosa. ― disse Nadia, erguendo as duas partes maiores que
carregava. ― Primeiro, este “cordão”, por assim dizer. Mostre
a eles, Basil.
O instrutor Basil pegou o cinturão
grosso, feito do mesmo material dos equipamentos aderidos ao seu
traje e o passou pela cabeça, deixando que o mesmo se encaixasse ao
redor da base do seu pescoço com a mesma precisão dos outros. No
instante seguinte uma barreira transparente se ergueu do cordão e,
fazendo um contorno próximo à sua cabeça, fechando-se. Se já não
fosse impressionante o bastante, enquanto este processo se realizava,
o equipamento encaixando na parte superior do pescoço do homem
reagiu e uma membrana nos mesmos tons do uniforme se estendeu,
cobrindo as orelhas e cabelo de Basil, deixando visível apenas seu
rosto.
“A
primeira expedição humana no Outro Mundo foi um fracasso. Boa parte
da equipe foi morta pelos componentes nanoscópicos da atmosfera
deste lugar. Um tipo de molécula que nenhum filtro até então
construído era capaz de deter. Mas, depois destas cinco décadas de
trabalho, cada soldado poderá contar com um filtro de ar perfeito e
individual, completamente seguro, durante suas caminhadas pelo Outro
Mundo.” disse Nadia e Basil apontou para o cordão. “Esta
película é a bolha de sobrevivência do Delta. Ela é tão
resistente quanto os melhores vidros blindados que se veem por aí,
mas fica desde já o alerta: jamais seja atingidos por qualquer
objeto que seja, na cabeça. Pode não ser fatal, mas não vale a
pena arriscar.”
“Por fim, o mais básico e óbvio:
uma arma” disse Nadia erguendo o outro objeto que agora era fácil
reconhecer como uma pistola. “Poderosa, eficaz, mas nada mais do
que isso. Não estamos aqui neste mundo para lutar, então este
equipamento não é nada mais do que uma ferramenta para apertos.
Também existem uns outros brinquedinhos que mostraremos a vocês na
hora certa.”
Depois disso, Nadia adentrou a alguns
detalhes históricos do desenvolvimento do Sistema Delta, tudo de
modo bastante sucinto, apenas para dar aos recrutas uma idéia da
forma como as tecnologias foram evoluindo. Esta parte da palestra
estendeu-se por pouco mais de trinta minutos. Era bem verdade que a
minoria parecia interessada nas informações, estavam muito mais
focados na presença silenciosa porém imponente do outro instrutor,
que apenas ouvia Nadia, estendendo os membros ou se virando para
destacar algum detalhe do traje:
“Por hoje, recrutas, o treinamento
prático vai terminar por aqui. Não se iludam, a partir de amanhã
as coisas se tornaram bem mais intensas. Hoje, se limitem às
atividades teóricas do instrutor Natan. Estão dispensados.”
As conversas explodiram assim que os
jovens foram saindo do salão. O tom geral era de exaltação. Mesmo
os que não estavam empolgados para vestir um daqueles trajes,
demonstrava total admiração:
― Parece algo saído do direto dos
filmes de ficção científica. ― disse Sara Silveira, que
caminhava junto ao seu grupo de amigos já conhecidos.
― É demais! Eu não vejo a hora de
estar detonando com aquele uniforme! ― exclamou Tiago, sacudindo os
punhos.
― Eu também, Tiago! Tenho certeza
de que vou detonar! ― disse Fernando, desafinando a voz devido à
empolgação.
― Até parece. ― provocou Matheus,
que caminhava com os braços cruzados na frente do corpo. A verdade é
que ele também estava empolgado, mas preferia parecer contido diante
dos outros.
― Ei, Matheus, vamos disputar nossas
habilidades o quanto antes, que tal? ― propôs Tiago, esticando a
mão para o amigo.
― Ah. . . ― Matheus hesitou por um
momento, e seu olhar se desviou momentaneamente para Sara, antes que
ele encarasse o amigo e aceitasse seu cumprimento. ― É claro.
Juliana e Mari havia sido quase as
últimas a deixar o salão. A loira falava sem cessar:
― É realmente algo completamente à
frente do nosso tempo. Não dá pra acreditar que Jonny desenvolveu
tudo isso. É claro que ele teve o trabalho de toda a equipe para
poder tornar os projetos realidade. Mas mesmo assim, é fantástico.
― É sim. ― concordou Juliana, sem
prestar muita atenção às palavras da outra. Internamente a ruiva
estava preenchida de uma gama de sentimentos. Havia um pouco de dor,
mas algo muito mais forte parecia se sobressair às lembranças e
pensamentos dolorosos: era a ansiedade.
― Ei, Julie. Você está parecendo
um pouco acordada.
― Como poderia estar dormindo?
― Você me entendeu. Você está
sempre dormindo para tudo ao seu redor, mas agora está parecendo bem
acordada. ― disse Mari. ― Você ficou admirada?
― Não é bem isso. ― respondeu
Juliana.
― Então?
― Eu
acho que. . . ― começou Juliana, sem saber muito bem o que dizer.
Deixou que a primeira ideia que lhe apareceu saísse. ― Acho que
encontrei algo além dos livros que eu goste.
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