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Disclaimer:
“Other World” é uma web-série independente, cuja a autoria
pertence à Lilian Kate Mazaki, publicado originalmente no blog
http://otherworld-serie.blogspot.com.br
Other
World – Capítulo 18
Desafio
para os Soldados Delta
por Lilian Kate Mazaki – abril
2014
Era quinta-feira, quarto dia da quinta semana da execução do Plano
de Treinamento dos Soldados Delta. No início daquela semana havia
ocorrido a completa separação das rotinas dos recrutas dos que
haviam ficado apenas com a parte teórica do projeto. Isso
significava que apesar de terem mais horas de prática, os Soldados
Delta também tinham um intervalo no início da tarde bem maior,
extendido em duas horas.
Naquele dia Juliana, Thales e Leonardo estava tendo o verdadeiro
privilégio da companhia de Mari durante todo o intervalo. A
programadora vinha seguindo uma rotina puxada de trabalho para a OMM
que havia tornado simples conversas quase inviáveis mesmo com a
companheira de quarto:
― Oh Mari, estávamos com saudades de conversar com você. ―
começou Leonardo. ― Bem que você podia nos contar o que anda
fazendo para a OMM, não é mesmo?
― Bem que eu estava estranhando todo esse carinho vindo de você,
Léo. ― respondeu a hacker. ― Aliás, eu não tenho nada demais
para falar. Chamados e manutenção da estrutura de segurança do
portal. Só isso.
― Mas como uma pirralha de treze anos está fazendo essas coisas
complexas e tão importantes para a Organização de Exploração do
Outro Mundo?! Como?!
― Léo, até eu já cansei dessa insistência. ― comentou Thales.
― Deixa a Mari na dela, cara. O importante é que ela é nossa
amiga.
― Conversa. ― bufou o moreno.
― Julie, você está usando a rede é? Estou vendo que está se
acostumando a isso, não é? ― disse Mari, observando o pedaço
retangular e liso de plástico transparente que Juliana segurava.
Havia um site de notícias projetado ali.
― Um pouco. Só para pesquisar algumas coisas. ― disse a ruiva,
sem se extender.
― Puxa, Mari. Ontem nós fizemos uma manobra complexa lá fora. Foi
incrível! ― disse Thales. ― Até precisamos usar as pistolas!
― E a Juliana conseguiu se sair melhor que quase todo mundo, como
sempre. ― completou Leonardo, entre o mau humor e a admiração. ―
Atirar não deveria ter haver com a interação dos nanorobôs com o
traje! Como ela conseguiu?!
― A nossa amiga-pedra parece ter nascido para essas coisas, não é
mesmo? ― riu-se Mari, mas percebeu que a ruiva não chegou a se
constranger com os comentários.
― Ainda temos uma hora de intervalo! Acho que vou comer alguns
doces. ― disse Thales, parecendo ansioso.
― Não é assim que vai deixar de ser um palito, moleque. ―
provocou Leonardo.
― Tsc, não enche!
Antes que Thales se levantasse da mesa onde estavam para ir ao
quiósque comprar chocolates uma pessoa se aproximou pelo seu lado
direito e apoiou as mãos na mesa, entre ele e Mari:
― E aí! ― cumprimentou o rapaz sorridente e energético de
cabelos castanhos e rosto comprido.
― Tiago. ― cumprimentou de volta Mari, sem a mesma felicidade do
outro.
― Tudo bacana com vocês? Thales, Leonardo, Juliana? ―
cumprimentou o rapaz. Thales respondeu com simpatia, Leonardo sem
emoção e Juliana apenas o encarou com estranheza.
― O que quer de mim dessa vez, garoto? ― perguntou Mari.
― Puxa vida, você me acha um interesseiro é, Mari?! ― exclamou
Tiago, com ar ofendido. ― Nossa, eu sei que somos parceiros em uns
projetos, mas eu também posso querer só falar com você!
― Oh, é mesmo? ― desacreditou a loira.
― Bom, na verdade eu tenho uma ideia aí. Ei, vou falar pra vocês
quatro e cês vão concordar comigo que é show!
― Lá vem. ― murmurou Leonardo.
Thales ficou dividido entre escutar e ir pegar os doces, porém Tiago
não se deteve e começou a explanar de maneira expansiva sua grande
ideia. Logo os quatro na mesa ficaram encarando o rapaz com estupor
visível:
― Você ficou maluco, cara? ― questionou Leonardo, quando Tiago
se calou.
― Uma competição? Tipo um torneio de luta, como os dos filmes?! ―
esganiçou-se Thales, que pareceu ficar fascinado com a perspectiva.
― Você só pode tá de brincadeira, cara. Esse treinamento não é
um jogo de videogame. Não pode pensar em colocar Soldados Delta em
brigas. ― acrescentou Leonardo, ficando a cada palavra mais
irritado.
― Não é briga! É disputa! Uma simples competição para ver quem
tem mais habilidade diante de um desafio! ― retorquiu Barbosa, que
ainda mantinha seu sorriso de excitação.
― Você disse que seria como um sumô dos Delta. Isso parece
bizarro falando, mas o quer quer dizer é que o objetivo vai ser só
tirar o outro da arena de combate, é isso? ― perguntou Thales, já
completamente interessado.
― Isso! Impulso, equilíbrio, elasticidade e precisão! São esses
atributos, junto com uma inteligência de superar a estratégia do
adversário que serão o foco dessa competição! ― Tiago falava
como um verdadeiro fanático a esta altura. ― Essa é a única
maneira de sabermos, na prática, quem realmente é que sabe usar o
Sistema Delta para sobreviver e vencer os imprevistos que nos esperam
lá fora!
O silêncio se fez diante o discurso do rapaz. Os quatro amigos
pareciam incapazes de falar até que Mari se manifestou pela primeira
vez sobre aquela conversa toda:
― Mas o que você quer de mim, Tiago? ― pergunou a programadora.
― Mari, você tem contato com toda a direção da OMM! Pode mesmo
falar com os instrutores fora de treinamento! Eu preciso que os
convença!
― Eu os convença?! Você tem uma ideia absurda e quer que eu
convença aqueles velhos a aceitá-la?! Porque não fala você com
seu papai-chefão para isso?!
― Mas eu já falei com ele, Mari.
― . . . Já? ― o choque era genuíno na expressão da loira.
― Sim. Ele me disse que você daria conta disso.
Mari se ajeitou e ficou fintando os navegadores que havia aberto na
superfície da mesa. Duas abas visíveis eram de fóruns de
anarquistas e hackers.
― O Gustavo Barbosa conhece a Mari? ― questionou Leonardo,
abismado.
― Cara, eu sou o oitavo no Ranking Geral. Isso vai ser demais! Os
oito melhores disputando pra ver quem manda mesmo na parada! ―
exclamou Thales.
― Eu podia passar sem isso. ― comentou Juliana, voltando-se para
a sua navegação.
― É por essas coisas que as pessoas tem medo de você, Lake. ―
disse Tiago.
― Medo. . . ? ― repetiu a ruiva.
Mari ergueu o rosto das páginas e encarou o rapaz em pé ao seu
lado:
― Você tem umas ideias malvadas, Tiago. Depois desses meses eu
acho que vou te apresentar pros meus amigos virtuais.
― Yes! Valeu, Mari! ― exclamou Tiago, extendendo a mão para que
a loira batesse de volta, em cumprimento. ― Formamos uma boa dupla,
não é mesmo?
― Tsc.
O clima não poderia ser mais desconfortável na sala dos instrutores
do Plano de Treinamento dos Soldados Delta.
Era horário de almoço e os instrutores tanto da parte teórica como
prática do treinando tinham o costume de se reunir na sala deles
para ter as refeições juntos, enquanto trocavam impressões do
desempenho sobre os duzentos e cinquenta jovens que estavam cada vez
mais habilitados para a sobrevivência daquela ambiente hostil do
Outro Mundo. Mesmo os professores que só tinham conhecimentos
técnicos conversavam entusiasmados sobre os feitos que os prodígios
da humanidade apresentavam diariamente.
Porém naquele começo de tarde a rotina dos debates do grupo havia
sido interrompida por um bater na porta inesperado. Uma figura
conhecida por todos e preliminarmente detestada pela maioria adetrou
no recinto e sem muito se demorar conseguiu obter a atenção de
todos:
― Competição? Entre os Soldados? ― repetiu Basil, sendo o
primeiro a se manifestar diante daquela proposta.
― Você está maluca, Mari Ritcher! ― exclamou Dolores Docs,
erguendo-se da sua cadeira à comprida mesa que se extendia por pelo
centro da sala.
― Você tem muita coragem em vir nesta parte reservada da Base só
para falar uma asneira dessas, garota. ― disse ríspido, Nigel.
― É óbvio para nós que você é alguém sem o menor respeito
pelo trabalho da OMM, Ritcher, mas você deveria saber seu lugar. ―
continuou Docs.
― Ninguém sabe qual o motivo da sua presença nessa instituição,
mas você não deveria sair por aí se achando desse jeito, menina. ―
reinterou Nigel.
― Fala alguma coisa, Nadia! ― exclamou Basil. ― Essa garota
está brincando com todo o nosso trabalho. Principalmente, com todo o
SEU trabalho, propondo que façamos uma rinha de adolescentes nessa
base!
― Eu nunca disse a palavra “rinha”, instrutor. ― corrigiu
Mari. Apesar de toda a agressividade do pequeno grupo à sua frente,
a expressão e postura da hacker permanecia intocável. Na verdade
seu olhar despreocupado soava arrogante em demasia diante dos olhos
dos adultos.
Menos para Nadia Rock.
A mulher responsável diretamente pelo treinamento dos Soldados Delta
havia assistido a explosão de fúria dos colegas em silêncio, sem
nem tirar os olhos do almoço que ainda estava terminando àquela
altura. Foi somente quando Basil chamou por ela que esta teve algum
movimento. Sem pressa, Nadia largou os talheres e encarou a jovem
loira que estava postada próxima a entrada:
― Essa idéia foi sua, Ritcher?
― Possivelmente.
― E você acha que Gustavo Barbosa iria permitir algo assim? ―
questionou a instrutora.
― Com o Barbosinha eu sei me virar, instrutora Rock.
― E como são os moldes dessa competição, Mari? ― perguntou
Nadia, surpreendendo os outros por dirigir-se à adolescente pelo
primeiro nome.
― Eu não acredito que você está dando ouvidos para a babaquice
que essa garota está propondo, Nadia! ― indignou-se Nigel.
― Nadia! Você não pode estar pensando nisto! ― disse Basil.
― Calem a boca. ― disse Nadia com força, surpreendendo os
colegas. Estes pareceram realmente perder a voz diante dessa
grosseiria. ― Mari?
― Uma disputa dentro de uma arena circular. O objetivo é apenas
tirar o outro competidor para fora.
― Pelo amor de Deus, nós não temos tempo para uma brincadeira
dessas! Estamos gastando milhões por dia e vocês estão pensando
num jogo de sumô usando as roupas mais caras da História! ―
argumentou Steel.
― Você quer que todos os Soldados sejam colocados nessa disputa? ―
perguntou Nadia, dirigindo-se a Mari como se não houvesse mais
ninguém na sala.
― Não. Apenas os oito melhores do ranking geral. Seria muito fácil
os outros cometerem uma bobagem que poderia causar um vexame mundial.
― respondeu a programadora, que fazia força com o rosto para não
deixar seu sorriso vitorioso transparecer.
― Mas qual o sentido de fazer algo assim?! Nadia, eu não entendo.
― disse Basil.
― Não entende mesmo. ― concordou Nadia, colocando-se em pé. ―
Nem você nem vocês todos! Nós temos jovens nas mãos, adolescentes
querendo colocar-se a prova e realizar feitos que só eles seriam
capazes! Se nós queremos soldados que consigam tirar o máximo do
Sistema Delta, que sejam apaixonados pelo que vai se tornar suas
obrigações daqui a alguns anos, nós temos que deixá-los loucos
para dar o melhor de si.
O silêncio foi absoluto diante do discurso da instrutora. Nenhum dos
outros parecia capaz de retrucar, mas também não pareciam querer
expressar nenhuma concordância:
― Vocês são uns bostas mesmo. Isso vai ser genial.