segunda-feira, 19 de maio de 2014

Capítulo 15: Repercussão

Outras opções de leitura
Download e Leitura Online (link direto)
Download (mediafire)
Leitura Online (mediafire)


Disclaimer: “Other World” é uma web-série independente, cuja a autoria pertence à Lilian Kate Mazaki, publicado originalmente no blog http://otherworld-serie.blogspot.com.br

Other World – Capítulo 15
Repercussão
por Lilian Kate Mazaki – abril 2014

A sessão de saltos se prolongou por toda a tarde e todos estavam exaustos quando Nadia Rock finalmente os liberou para o jantar. Ainda que o cansaço fosse unânime, pouco a pouco conversas excitadas foram sendo cochichadas pelos corredores de todos os cinco pavilhões de treinamento da base humana no Outro Mundo.
E era sobre Juliana Lake que quase todas essas conversas falavam.
Depois do feito inesperado da jovem, diferente da reação de explosão que os recrutas haviam tido com o salto de Fábio Ivanoff, o silêncio foi o que sobreveio. A instrutora Rock foi a única que pareceu genuinamente entusiasmada.
Nas sessões de salto seguintes todos ficavam sempre muito atentos quando os recordistas iam executar suas tentativas. Juliana não mais conseguiu a façanha dos trinta e sete metros, na verdade nem mesmo conseguiu passar Fábio Ivanoff, que se esforçou ao máximo em cada salto, tendo somente igualado a marca dos seus trinta metros mais uma vez.
Os mais desejosos por melhores desempenhos acabaram concluindo que Juliana Lake tivera apenas uma sorte excessiva da primeira vez.
Thales e Leonardo evitaram comentar qualquer coisa sobre o salto de Juliana durante a volta para o bloco B. Encontraram Mari, com uma expressão de exaustão genuína, já sentada à uma das das largas mesas do refeitório, porém pareciam esperá-los para servir-se:
― Ei, meus soldadinhos, parece que se esforçaram bastante hoje. ― comentou ela quando os três se aproximaram o bastante.
― Mas aposto que minha cara não está tão acabada quanto a tua, cracker. ― comentou Leonardo com o alguma diversão em importunar.
― Não é pra menos. Eu não entendo esse pessoal da Computação. Às vezes tenho a impressão de que sou eu a doutorada, não eles. ― reclamou a garota.
― Vamos comer, antes que eu desmaie aqui mesmo! ― disse Thales.
Os quatro se serviram de porções generosas e voltaram ao lugar:
― Julie, sei que você é uma pessoa um tanto modesta, mas queria te avisar que todos na OMM já sabem do seu feito do dia. ― disse Mari, antes de começar a comer.
Juliana parou com o garfo no ar, a caminho de levar uma porção de massa para a boca e franziu a testa para a loira. Pousou o talher:
― Er. . . ― resmungou Thales, incomodado.
― O que foi? Achei estranho vocês não virem comentando sobre isso. ― disse Mari. ―"Nossa! Eu não consegui acreditar nos meus olhos!" Ou algo assim. ― completou ela, fazendo uma imitação do jeito entusiasmado de sempre de Thales.
― Ela só fez uma vez. Deve ter sido uma sorte de principiante. ― respondeu Leonardo, evitando olhar para Juliana.
― Sabe, foi estranho. ― disse Thales em tom de confissão. ― O salto do Ivanoff tinha sido incrível, mas ele já tem essa postura superior, sabe. Ninguém esperava que a Julie fosse fazer algo tão. . . tão.
― Você ficou assustado com um pulo, é isso mesmo, Thales? ― questionou Mari, com uma expressão de choque. ― Fala sério, eu achei que tinha sido um gol da seleção quando gritaram lá no departamento de computação.
― Gritaram? ― perguntou Juliana, insegura.
― Sim, Julie! Claro que eles não deviam ficar assistindo os treinamentos, mas todos estão muito curiosos. O seu salto foi formidável, um verdadeiro feito do Sistema Delta. E seu também.
― Ah. . . ― Juliana quis agradecer pelas palavras da amiga, mas estava sem jeito demais para isso.
― É proibido vazar qualquer informação do treinamento para o povo, mas tenho certeza de que vão comentar sobre isso na internet. Já já vão estar comparando isso com o primeiro robô de exploração pousando em Titan!
― Ótimo. . . ― gemeu Juliana, se encolhendo sobre o prato e voltando-se apenas para sua comida.
Em uma mesa afastada dali o grupo de amigos centralizado em Thiago Barbosa também falava sobre o assunto predominante:
― Incrível, essa Juliana Lake. Eu fiquei sem palavras quando ela fez aquele salto! ― comentou o filho do General Barbosa. Assim como na outro grupo os pratos generosamente servidos predoninava entre os novos soldados.
― Será que ela é mesmo boa assim? Afinal ela só fez uma vez. ― questionou o pequeno Fernando, parecendo mais confortável em voltar a utilizar seu boné.
― Mesmo que só tenha saltado trinta e sete metros uma vez, todos os outros saltos dela foram melhores que os nossos. ― ponderou Matheus.
― É realmente incrível! ― exclamou Daniel Ivanoff. ― Digo, meu irmão pareceu sentir-se desafiado por aquela garota, a Lake. Eu nunca o tinha visto com aquele olhar.
― Seu irmão parece ser o tipo de cara muito competitivo, Dani. ― comentou Milene Wood. Apesar de as atividades da tarde estarem divididas agora, a noite todos os amigos que já se conheciam se reuniam novamente para o bate-papo. ― Você não tem nenhum problema com isso?
― Problema? Não, não. ― respondeu Daniel, um tanto incerto.
― Matheus. ― chamou Sarah, que estava mais uma vez sentada do lado direito do rapaz.
― Sim, Sarah? ― respondeu o loiro, já sentindo o costumeiro nervosismo brotando no fundo do estômago.
― Os seus resultados foram muito bons, não é mesmo? Deve estar feliz.
― É, estou satisfeito sim. Acho que iria orgulhar meu pai.
― Matheus. . . ― Sarah ficou surpresa, pois o rapaz nunca mencionava o seu falecido pai, ainda que fosse um filho próximo a Jonanthan Alabart antes da morte prematura deste.
Distraído, Matheus ouviu seu nome ser dito pela amiga e virou o rosto para encará-la, fazendo os dois cruzarem o olhar sem falar nada por um momento. Quando perceberam isso ambos viraram e se ajeitaram nos acentos, parecendo querer muito prestar atenção na conversa que seguia:
― Queria que tivesse um modo de saber quem é mais habilidoso com o Sistema Delta. ― ia dizendo Tiago. ― Sabe, colocar algo meio que oficial.
― Mas Tiago, os soldados não são competidores. Isso não é um esporte, é um treinamento. ― repreendeu João, parecendo horrorizado com a ideia do amigo.
― Ah João, cê é muito pacífico mesmo! Não entende que se tiver um clima de competição todos vão querer melhorar para ficar na frente? É uma ideia e tanto!
― Não consigo discordar. ― disse Daniel, levando a mão ao queixo num gesto de reflexão.
― Seria maneiro, Tiago! Eu iria fazer o máximo para superar você e meu irmão! Quero ser o melhor! ― declarou Fernando, sem qualquer constrangimento por sua ambição.
― Melhor que o Fábio Ivanoff, Fernando? ― perguntou Matheus, não resistindo a dar uma dose de realidade no caçula.
Fernando respondeu com um gesto nada elegante, mas esperado do gênio explosivo do mesmo. Matheus o ameaçou, mas a discussão dos dois ficou por isso mesmo.






Na manhã da sexta-feira da primeira semana de treinamentos na base humana no Outro Mundo, Juliana Lake levantou-se com uma notícia que fez seus ânimos, normalmente invariantes, afundar. Foi Mari quem lhe trouxe a informação, durante o trajeto já típico de ir ao refeitório para o desjejum:
― Um vídeo? ― repetiu Juliana, com a voz fraca.
― Isso. É terminantemente proibido divulgar qualquer material do treinamento dos Soldados Delta para fora desta base, por causa de todos os problemas políticos. Mas parece que algum engraçadinho sem muita noção fez uma cópia da gravação e, usando uma rede anônima de dentro da própria sede subiu o vídeo no site de streaming mais acessado do mundo. ― relatou Mari, que parecia um tanto irritada com a situação. Hoje suas olheiras de cansaço estava bem mais amenas do que anteriormente.
― Em pleno século vinte e três e a segurança continua a mesma coisa do século vinte. ― disse Juliana, expressando muito bem sua amargura.
― Não sei se isso te deixa melhor ou não, mas o vídeo está sendo um sucesso astronômico na internet. Até o fim da tarde vai ser o assunto mais comentado em todas as redes e portais de notícias.
― Só as caras que os outros fizeram pra mim naquela hora já tinha sido ruim o bastante, Mari.
― Isso é algo que eu não entendo! Por que diabos alguém iria achar ruim uma marca impressionante que você e o Sistema Delta atingiram juntos? ― volciverou a hacker, quando enfim chegaram ao refeitório. As duas rapidamente se serviram e sentaram em uma mesa onde já estava ficando acostumada a comer.
― Eu sei lá o que os outros pensaram. ― disse Juliana, encarando o sanduíche que pegara. ― Só sei que as pessoas já me achavam uma esquisita desde antes, antes de tudo acontecer. Agora vai ser mais ainda.
― Eu também te achava uma esquisita. ― disse Mari, depois de tomar um gole do café com leite, encarando o deserto pela larga janela ao fundo. ― Na verdade nem sei quando deixei de achar isso, Julie. Você é uma pessoa difícil de entender.
― Obrigada.
― Ei, não precisa se desanimar desse jeito. ― disse a loira. ― Você não é uma pessoa estranha de verdade. Eu e os garotos já estamos habituados a você e sabemos que é tão gente quanto qualquer um, só é quase muda.
― Estão falando de nós? ― perguntou Thales. Ele e Leonardo vinham chegando com as bandejas de café da manhã já preenchidas.
― É que nossa amiguinha metade-fantasma está precisando de uma dose de ânimo hoje. ― esclareceu Mari.
― Por causa do que aconteceu ontem ainda? ― indagou Leonardo. ― Não fica com essas coisas na cabeça não, Juliana.
― Parece que o vídeo vazou pra internet, né. ― comentou Thales, meio receoso. ― Isso piora um pouco.
― Esperem, eu estou chocada demais neste momento.
― O que foi, Mari? ― perguntou Thales, distraído do seu raciocínio.
― Nunca imaginei que o Leonardo tinha o dom de ser gentil com alguém. Fiquei abismada como nunca!
― Ah, vá. . . ― xingou o moreno, voltando ao seu mal humor típico.










Os treinamentos daquele dia e dos posteriores seguiu sem que novos acontecimentos incomuns fossem motivo de grande falatório. Juliana teve que aguentar muitos olhares por todos os lugares que passasse, ainda que isso não tivesse mudado o fato de que ninguém além do grupo que já estava acostumada se aproximava para trocar qualquer par de palavras. Seu desempenho continuava excelente nos treinamentos teóricos e práticos, tendo sempre Fábio Ivanoff como comparativo para suas marcas visíveis.
No fim da segunda semana das oito totais do Plano de Treinamento dos Soldados Delta os jovens habilitados já estava aprendendo técnicas de sobrevivência mais avançadas e se preparavam para pisar pela primeira vez no ambiente externo do Outro Mundo.
Durante esse meio tempo os jovens haviam aprendido a verificar os números associados a cada um dos seus exercícios e práticas, que eram registrados em banco de dados com acesso individual. Os mais próximos comparavam seus números e tentavam quantificar um total para saber quem seria o "melhor" do grupo, segundo critérios que eles próprios definiam de superioridade.
Thiago Barbosa era um dos que mais realizava essa prática, mas a dificuldade de computar as informações e fazer um cálculo justo de comparação o frustravam. Foi buscando uma solução para essa questão que ele falou com diversas pessoas e chegou a decisão de comer apenas uma barra de chocolate no intervalo do almoço do sábado para buscar nos corredores pela pessoa que havia achado como ideal para ajudá-lo.
Mari Ritcher estava com uma aparência particularmente péssima naquele dia. Sem tempo para fazer as refeições a hacker se desdobrava para atender os pedidos do setor de computação da sede na Terra e ainda debruçava-se sobre os manuais que gerenciavam o sistema de proteção absoluto que cercava o Portal que ligava as duas dimensões.
No começo de tarde ela estava se encaminhando para o portal mais uma vez, para atender a uma solicitação urgente de um Engenheiro com pós-doutorado que não conseguiam encontrar os acessos corretos para verificar o andamento de testes em um novo protótipo para uso dos Soldados Delta. Ela estava tentando ler uma thread de fórum enquanto avançava a passos rápidos pelo corredor quando quase esbarrou em alguém que cruzou seu caminho de repente:
― Mari Ritcher?! ― exclamou o rapaz de cabelos castanhos e rosto alongado.
― Caramba! Quase você me mata de susto! ― reclamou a garota. ― Sou eu sim, o que há?
― Ah, meu nome é Tiago Barbosa. Eu sou um dos recrutas dos Soldados Delta. ― apresentou-se o rapaz, acalmando-se um pouco.
― Sim, eu sei quem você é. ― disse Mari, observando-o melhor. ― Sou amiga do seu pai sabe.
― Meu pai? ― estranhou Tiago.
― Longa história. O que quer falar comigo, Tiago?
― Ah! Bom, é sobre uma ideia, para algo que pode ser útil para os Soldados Delta. Eu ouvi falar que você faz coisas para OMM, né.
― Faço sim. . . Tenho feito mais coisas pela OMM do que pela minha alma nos últimos dias.
― Então, é sobre as pontuações que nós, futuros soldados, conseguimos durante as atividades, sabe. . .
― Olha, Tiago, eu estou com pressa. Quem sabe outra hora você me procura e-
― Espera, espera! Não quer sentar nem um pouco para me ouvir?! Eu tenho um pouco de chocolate aqui, não quer dividir?
― Fico tentada pelo cholate, mas. . .
― Me disseram que você é o hacker mais poderoso que eu poderia encontrar.
Mari esticou o braço e pegou a metade de barra que Tiago segurava:
― Por que não conversar, não é mesmo?








― Como é?! Seu irmão conseguiu uma namorada?!
Fernando e Daniel e Carla Steins estavam sentados em uma das cabines ao redor das mesas do salão de estudos do bloco B. Era noite, após o horário do jantar e os três conversavam sobre qualquer coisa para distrair-se da rotina cansativa:
― Sim, e eu também fiquei surpreso. É uma garota com cara de estudiosa, lá do bloco E. Ela não é da turma dos soldados nem nada.
― Seu irmão teve sorte, né. ― comentou a pequena Carla.
― Que nada! O cara é um monstro, isso sim! Ser o melhor dos Soldados Delta e ainda descolar uma garota! Ele é o cara! ― disse Fernando, admirado.
― Não sabia que queria ter uma namorada, Fernando. ― brincou Daniel, rindo-se com Carla da expressão de desconcerto do outro.
― N-Não é isso! Eu ainda quero aproveitar muito a vida antes de me incomodar com mulheres!
― Isso aí, machão. ― zombou Carla.
― Além disso. ― começou Daniel, um pouco mais sério. ― Ninguém tem como ter certeza de que meu irmão é o melhor Soldado Delta.
― Claro que é, Daniel! Olha as manobras que ele faz! Os golpes, as esquivas! ― contra-argumentou Fernando.
― Pra mim o Tiago, o seu irmão e aquela Juliana Lake estão no mesmo nível do meu irmão.
― Pois você está errado! O Fábio é o máximo! Ele deixa meu irmão comendo poeira!
― Calma, Nando. ― disse Carla, um tanto assustada com a agressividade das afirmações do garoto. Porém a discussão foi interrompida nesse momento.
― Fernando, Daniel e Carla! É ótimo encontrar vocês! Eu estava maluco procurando qualquer um da galera pra mostrar isso! ― disse Tiago, se aproximando e sentando na cadeira desocupada.
― Tiago! Bem na hora! Fala pro Nando parar de viajar! Ele está tão fanático pelo meu irmão que já estou ficando assustado!
― O cara é o melhor! E ainda conseguiu uma namorada! É algo inacreditável!
― Ele pode até ter conseguido uma garota, mas eu consegui algo ainda mais incrível. ― gabou-se Thiago, com um sorriso ardiloso.
― Do que você tá falando? ― perguntou Daniel.
― Heh. Preparem-se para conhecer o site que mais vão gostar de ver ao final de cada dia de treinamento, de hoje em diante. ― anunciou Barbosa, antes de abrir o navegador projetado na mesa.
Levou alguns instantes para que os três entendessem exatamente o que estavam vendo. Mas não demorou nada para que uma algazarra fosse feita ao chegarem à resposta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário