sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Capítulo 17: Do outro lado


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Disclaimer: “Other World” é uma web-série independente, cuja a autoria pertence à Lilian Kate Mazaki, publicado originalmente no blog http://otherworld-serie.blogspot.com.br

Other World – Capítulo 17
Do Outro Lado
por Lilian Kate Mazaki – abril 2014


Milene caminhava sem muita pressa rumo as aulas daquela manhã. Como o de costume sua presença pelos corredores do bloco B da base humana no Outro Mundo não passava desapercebida. Por maldade ou mesmo pura inocência, a verdade era que a maioria dos seus colegas de estudo não conseguia ignorar a figura esbelta de Milene, com passadas leves, porém ágeis, e longos cabelos ondulando às costas.
Naquela manhã de quinta-feira em particular a única coisa incomum em sua passagem até o salão de instrução era a ausência da figura que sempre a acompanhava para todos os lados que seguisse: João. O rapaz havia esquecido o remédio para inflamação que estava tomando a alguns dias, por isso haviam se separado após o café da manhã. Milene não sabia dizer que o silêncio maior aos seus ouvidos a agradava ou não.
Ela e João eram amigos desde os dez anos de idade, quando haviam estudado na mesma sala, em uma escola de alto nível da cidade. João era aluno transferido e tinha dificuldades de conversar com pessoas novas e Milene sempre fora o tipo de pessoa que se sentia incomodada ao ver alguém parecendo triste a um canto.
Os dois se tornaram bons amigos, conversando sobre desenhos, livros e coisas do cotidiano. Milene conhecera mais sobre os jogos mais populares e acabara mostrando quase uma centena de bandas que ela mesma ia pegando o gosto de escutar, isso já lá pelos doze anos de idade. Graças ao jeito extrovetido da garota ela logo fez amizade com Sara Silveira, que chegou também como uma transferida de turma deslocada, assim aumentando o círculo de amizade tanto dela quanto do seu velho parceiro. Porém os dois ainda continuaram sendo próximos, indo para casa juntos ou parando em livrarias para procurar alguma novidade em quadrinhos ou música.
Era óbvio para Milene a bastante tempo já, talvez desde os quartorze, a queda romântica que seu amigo tinha por ela. As atitudes que no começo soavam apenas como coleguismo logo ficaram evidentes como uma paixonite. Ainda assim a jovem não tinha a menor intenção, pelo menos naquele momento, de esclarecer as coisas com João. Ela gostava da companhia do rapaz, não gostaria de vê-lo magoado por ela não sentir-se interessada em namoro. Além disso, quem sabe daqui a uns anos essa vontade não mudasse?
― Oi, Milene! ― chamou Sara, quando esta adentrou na sala ampla e recheada de cadeiras onde passariam as próximas horas. Esta se aproximou e sentou-se ao lado da amiga.
― Então lá vamos nós para mais uma sessão de tortura com aquela professora esquisitona, não é mesmo? ― comentou Milene.
― Ai, não precisava ter me lembrado disso, Mi. ― lamentou-se Sara. ― O que estamos estudando mesmo?
― Logística, é claro. ― respondeu Milene, parecendo estranhar o esquecimento de algo tão recente da outra. Um sorriso malicioso se formou nos seus lábios. ― Ora, será que a presença do Matheus no café da manhã é tão forte assim para você esquecer da matéria?
― Milene! ― exclamou Sara, alarmada, ficando com as bochechas vermelhas e olhando para todos os lados. ― Eu te mato se alguém te escutar falando essas coisas!
― Desculpa, Sara. ― disse Milene, dando risadas altas. ― Você fica tão engraçada quando falo desse seu amor que eu não resisto!
― E você, porque não está andando com seu namorado hoje? Brigaram? ― questionou Sara.
― O João não é meu namorado! Droga, você não sabe levar uma brincadeira na esportiva, menina!
As duas amigas continuaram trocando provocações até que a pequena Carla Steins se aproximou e sentou na cadeira logo atrás de Milene:
― Oi meninas.
― Carlinha, tudo bem?
― Sim, sim. Só estava me lembrando daquela coisa horrenda.
― Coisa horrenda? ― perguntou Milene, sem entender.
― Ah, você está falando daquela roupa, não é mesmo?
― Eu não consigo aceitar aquele uniforme cinza feioso, não consigo!
― Ah, você está falando do traje que as equipes técnicas da OMM usam, não é mesmo? ― disse a mais alta do grupo, enfim compreendo a que as outras se referiam. ― Bom, ele não me parece tão ruim assim.
― Como não, Mi?! Aquele cinza apagado, aquele monte de rugas por todos os lados! ― indignou-se Carla.
― Ora, Carlinha, os trajes são para sobreviver na atmosfera lá fora, não para um desfile de moda. ― ponderou Milene.
― Isso mesmo. ― concordou Sara. ― Eles são meio esquisitões, bem mais folgados do que o dos soldados, mas o objetivo dele é ser confotável e seguro para passarmos vários períodos do lado de fora.
― Isso. Eles não podem ficar gastando tanto para os trajes dagente. O dos Soldados Delta deve ser uma fortuma mais caro, por causa do tecido inteligente e autoajustável.
― Pensa pelo lado bom: os trajes dos soldados deixam bem mais evidentes as gordurinhas.
― Como é?! ― riu-se Milene, tapando parcialmente a boca para o som da sua risada não ficar muito alto. ― Vocês realmente se preocupam com a aparência aqui no Outro Mundo?!
― Eu só estava tentando consular a menina, Mi. Você é muito chata às vezes.
― Oi garotas. ― cumprimentou João. Chegando até o grupo e se sentando na cadeira do lado esquerdo de Milene. ― Parece que já começaram o dia animadas.
― Só comentando sobre o traje de novo. ― esclareceu Milene.
― Ah, eu não faço questão nenhuma de usar aquele traje ou ir lá fora. ― disse o rapaz, enfático. ― Deixa esse negócio de explorar com os Soldados que é melhor.
A essa altura praticamente todas as cadeiras estavam preenchidas pelos estudantes da instrução teórica do Plano de Treinamento dos Soldados Delta. Como a quantidade havia sido ajustada ao total de alunos, qualquer ausência era notada fácil. Quando a baixa e encorpada instrutora Docs, responsável pelas instruções sobre logística, adentrou só havia um local vazio:
― Parece que aquela garota, a Mari Ritcher não vai aparecer de novo. ― comentou Sara.
― Eu não entendo, ela mais não aparece do que outra coisa. ― disse Milene.
― Mas ela é funcionária da OMM, não é mesmo? Deve ter outras reponsabilidades. ― ponderou Sara.
― Funcionária? Uma garota de treze anos? ― questionou a garota mais alta do grupo, espantada.
― É o que todo mundo diz. ― disse João. ― Ela anda com o jaleco da engenharia da OMM pra cima e pra baixo e também vem e vai daqui pra Terra. Só não consigo entender o que uma pirralha pode fazer na área de engenharia.
― O Thiago tem conversado várias vezes com ela. ― disse Sara. ― Parecem ser amigos.
― Eu já ouvi alguém dizendo que ela quem fez o site do ranking dos Delta. ― comentou Carla, tentando parecer desinformada. A verdade é que o próprio Thiago havia deixado escapar essa informação quando mostrara a ferramenta.
― Bobagem. ― retrucou João. ― Como se uma garota fosse ser capaz de hackear o sistema de uma organização poderosa e séria.
― Não sabia que você era machista, João.
― Ein?! Não me entenda mal, Milene!

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