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Disclaimer:
“Other World” é uma web-série independente, cuja a autoria
pertence à Lilian Kate Mazaki, publicado originalmente no blog
http://otherworld-serie.blogspot.com.br
Other
World – Capítulo 17
Do
Outro Lado
por Lilian Kate Mazaki – abril
2014
Milene caminhava sem muita pressa rumo as aulas daquela manhã. Como
o de costume sua presença pelos corredores do bloco B da base humana
no Outro Mundo não passava desapercebida. Por maldade ou mesmo pura
inocência, a verdade era que a maioria dos seus colegas de estudo
não conseguia ignorar a figura esbelta de Milene, com passadas
leves, porém ágeis, e longos cabelos ondulando às costas.
Naquela manhã de quinta-feira em particular a única coisa incomum
em sua passagem até o salão de instrução era a ausência da
figura que sempre a acompanhava para todos os lados que seguisse:
João. O rapaz havia esquecido o remédio para inflamação que
estava tomando a alguns dias, por isso haviam se separado após o
café da manhã. Milene não sabia dizer que o silêncio maior aos
seus ouvidos a agradava ou não.
Ela e João eram amigos desde os dez anos de idade, quando haviam
estudado na mesma sala, em uma escola de alto nível da cidade. João
era aluno transferido e tinha dificuldades de conversar com pessoas
novas e Milene sempre fora o tipo de pessoa que se sentia incomodada
ao ver alguém parecendo triste a um canto.
Os dois se tornaram bons amigos, conversando sobre desenhos, livros e
coisas do cotidiano. Milene conhecera mais sobre os jogos mais
populares e acabara mostrando quase uma centena de bandas que ela
mesma ia pegando o gosto de escutar, isso já lá pelos doze anos de
idade. Graças ao jeito extrovetido da garota ela logo fez amizade
com Sara Silveira, que chegou também como uma transferida de turma
deslocada, assim aumentando o círculo de amizade tanto dela quanto
do seu velho parceiro. Porém os dois ainda continuaram sendo
próximos, indo para casa juntos ou parando em livrarias para
procurar alguma novidade em quadrinhos ou música.
Era óbvio para Milene a bastante tempo já, talvez desde os
quartorze, a queda romântica que seu amigo tinha por ela. As
atitudes que no começo soavam apenas como coleguismo logo ficaram
evidentes como uma paixonite. Ainda assim a jovem não tinha a menor
intenção, pelo menos naquele momento, de esclarecer as coisas com
João. Ela gostava da companhia do rapaz, não gostaria de vê-lo
magoado por ela não sentir-se interessada em namoro. Além disso,
quem sabe daqui a uns anos essa vontade não mudasse?
― Oi, Milene! ― chamou Sara, quando esta adentrou na sala ampla e
recheada de cadeiras onde passariam as próximas horas. Esta se
aproximou e sentou-se ao lado da amiga.
― Então lá vamos nós para mais uma sessão de tortura com aquela
professora esquisitona, não é mesmo? ― comentou Milene.
― Ai, não precisava ter me lembrado disso, Mi. ― lamentou-se
Sara. ― O que estamos estudando mesmo?
― Logística, é claro. ― respondeu Milene, parecendo estranhar o
esquecimento de algo tão recente da outra. Um sorriso malicioso se
formou nos seus lábios. ― Ora, será que a presença do Matheus no
café da manhã é tão forte assim para você esquecer da matéria?
― Milene! ― exclamou Sara, alarmada, ficando com as bochechas
vermelhas e olhando para todos os lados. ― Eu te mato se alguém te
escutar falando essas coisas!
― Desculpa, Sara. ― disse Milene, dando risadas altas. ― Você
fica tão engraçada quando falo desse seu amor que eu não resisto!
― E você, porque não está andando com seu namorado hoje?
Brigaram? ― questionou Sara.
― O João não é meu namorado! Droga, você não sabe levar uma
brincadeira na esportiva, menina!
As duas amigas continuaram trocando provocações até que a pequena
Carla Steins se aproximou e sentou na cadeira logo atrás de Milene:
― Oi meninas.
― Carlinha, tudo bem?
― Sim, sim. Só estava me lembrando daquela coisa horrenda.
― Coisa horrenda? ― perguntou Milene, sem entender.
― Ah, você está falando daquela roupa, não é mesmo?
― Eu não consigo aceitar aquele uniforme cinza feioso, não
consigo!
― Ah, você está falando do traje que as equipes técnicas da OMM
usam, não é mesmo? ― disse a mais alta do grupo, enfim compreendo
a que as outras se referiam. ― Bom, ele não me parece tão ruim
assim.
― Como não, Mi?! Aquele cinza apagado, aquele monte de rugas por
todos os lados! ― indignou-se Carla.
― Ora, Carlinha, os trajes são para sobreviver na atmosfera lá
fora, não para um desfile de moda. ― ponderou Milene.
― Isso mesmo. ― concordou Sara. ― Eles são meio esquisitões,
bem mais folgados do que o dos soldados, mas o objetivo dele é ser
confotável e seguro para passarmos vários períodos do lado de
fora.
― Isso. Eles não podem ficar gastando tanto para os trajes
dagente. O dos Soldados Delta deve ser uma fortuma mais caro, por
causa do tecido inteligente e autoajustável.
― Pensa pelo lado bom: os trajes dos soldados deixam bem mais
evidentes as gordurinhas.
― Como é?! ― riu-se Milene, tapando parcialmente a boca para o
som da sua risada não ficar muito alto. ― Vocês realmente se
preocupam com a aparência aqui no Outro Mundo?!
― Eu só estava tentando consular a menina, Mi. Você é muito
chata às vezes.
― Oi garotas. ― cumprimentou João. Chegando até o grupo e se
sentando na cadeira do lado esquerdo de Milene. ― Parece que já
começaram o dia animadas.
― Só comentando sobre o traje de novo. ― esclareceu Milene.
― Ah, eu não faço questão nenhuma de usar aquele traje ou ir lá
fora. ― disse o rapaz, enfático. ― Deixa esse negócio de
explorar com os Soldados que é melhor.
A essa altura praticamente todas as cadeiras estavam preenchidas
pelos estudantes da instrução teórica do Plano de Treinamento dos
Soldados Delta. Como a quantidade havia sido ajustada ao total de
alunos, qualquer ausência era notada fácil. Quando a baixa e
encorpada instrutora Docs, responsável pelas instruções sobre
logística, adentrou só havia um local vazio:
― Parece que aquela garota, a Mari Ritcher não vai aparecer de
novo. ― comentou Sara.
― Eu não entendo, ela mais não aparece do que outra coisa. ―
disse Milene.
― Mas ela é funcionária da OMM, não é mesmo? Deve ter outras
reponsabilidades. ― ponderou Sara.
― Funcionária? Uma garota de treze anos? ― questionou a garota
mais alta do grupo, espantada.
― É o que todo mundo diz. ― disse João. ― Ela anda com o
jaleco da engenharia da OMM pra cima e pra baixo e também vem e vai
daqui pra Terra. Só não consigo entender o que uma pirralha pode
fazer na área de engenharia.
― O Thiago tem conversado várias vezes com ela. ― disse Sara. ―
Parecem ser amigos.
― Eu já ouvi alguém dizendo que ela quem fez o site do ranking
dos Delta. ― comentou Carla, tentando parecer desinformada. A
verdade é que o próprio Thiago havia deixado escapar essa
informação quando mostrara a ferramenta.
― Bobagem. ― retrucou João. ― Como se uma garota fosse ser
capaz de hackear o sistema de uma organização poderosa e séria.
― Não sabia que você era machista, João.
― Ein?! Não me entenda mal, Milene!
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