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Disclaimer:
“Other World” é uma web-série independente, cuja a autoria
pertence à Lilian Kate Mazaki, publicado originalmente no blog
http://otherworld-serie.blogspot.com.br
Other
World – Capítulo 12
Simulação
por Lilian Kate Mazaki – março
2014
No dia seguinte, ao chegar no auditório da instrução teórica os
candidatos se viram diante de um espaço bem diferente do dia
anterior. Exatas duzentas poltronas estava arrumadas no espaço que
antes estivera vazio. Os jovens foram arrumando suas posições, com
os membros dos grupos ficando próximos uns dos outros e
posicionando-se ao lado dos acentos. As poltronas eram simples, porém
bastante confortáveis e alguns deles repararam que havia um apoio
para as pernas, reconhido e travado.
Juliana chegou ao lado da poltrona imediatamente seguinte a de Mari e
parou para observar o acento. A primeira coisa que reparou e pareceu
não chamar a atenção dos outros era um compartimento anexado ao
braço direito da poltrona. Uma pequena gaveta fechada:
― Bom dia, cadetes. ― cumprimentou o instrutor Nigel Steel
batendo a porta atrás de si da mesma maneira que havia feito no dia
anterior. ― Recebi todos os relatórios de vocês. Todos muito
completos.
O homem se postou diante da turma e encarou a multidão. Ele tinha
uma postura bem mais animada do que no dia anterior:
― Fizeram muito bem em já escolher seus lugares. Agora, quero que
cada um de vocês pegue a caixa que está dentro da gaveta.
Os candidatos ficaram em sua maioria confusos com a ordem, perdendo
alguns instantes antes de verificar que havia o compartimento
acoplado. Juliana apenas abriu a gaveta e retirou a modesta caixa de
papelão de dentro, segurando-a:
― Dentro desta caixa há os acessórios para o início dos
treinamentos: um injetor contendo a quantidade padrão de nanorobôs
que um soldados precisa ter na corrente sanguínea e um óculos
escuro para carregar os programas de simulação neural do Programa
Delta. Podem pegar aplicar os nanorobôs no antebraço.
Os jovens abriram suas caixas e encontraram os aplicadores. Um tubo
grosso contendo um líquido amarelo encaixado em uma pistola para
injetar. Alguns ficaram mais assustado com a ideia do que outros e
muitos cochichos e interjeições de preocupação encheram o ar.
Sem hesitar, Juliana levou a ponta do injetor ao antebraço esquerdo
e disparou. A dor foi mínima e o líquido amarelo desapareceu do
tubo. Uma sensação de formigamento interno se espalhou pelo braço
dela por um momento, mas logo foi se tornando imperceptível. Dentre
os outros cento e noventa e nove candidatos da turma B apenas Fábio
Ivanoff realizou a aplicação sem deter-se por sequer um segundo.
Ainda que tenha levado um tempo, logo todos haviam feito o mesmo que
Juliana e Fábio:
― Que sensação engraçada. ― comentou Thales depois de aplicar
sua dose de nanorobôs.
― Agora, cadetes, podem sentar-se às suas poltronas e recostar.
Elas irão inclinar e liberar o recosto para as pernas. Tenham em
mãos somente o óculos que estava na caixa. Aqueles que já usam
lentes de grau podem deixar seus óculos na gaveta. O óculos de
simulação irão ler suas informações de correção e irão
aplicar com perfeição, não se preocupem.
Os alunos obedeceram e logo todos estavam recostados, alguns já com
os óculos de lentes completamente pretas e opacas no rosto e tantos
outros apenas segurando-os.
Nigel ordenou que todos colocassem os óculos e esperassem o sistema
dele iniciar. Alguns instantes e um pequeno sistema operacional
estava sendo projetado diante dos olhos de cada um dos jovens da
turma. Na tela principal haviam apenas duas opções a serem
selecionadas "Iniciar/Continuar rotina" e "Desligar".
Todos aguardaram em silêncio:
― Escutem com atenção: estes óculos são modernos projetores de
realidade virtual que vão dar-lhes plena sensação de estar em
outro local e condições, graças ao trabalho conjunto com o HNI de
cada um. Nestes ambientes virtuais iremos realizar uma série de
exercícios para detectar e aperfeiçoar ao limites as interações
de vocês com o sistema.
"Foi por este motivo que pedi as listagens de usos do HNI. Cada
um de vocês terá que realizar cada um destes exemplos que me
passaram no ambiente virtual."
"Não pensem que destrancar o sistema de segurança de casa será
a tão simples quanto normalmente. Vocês terão que realizar isto em
um ambiente simulado e irreal, ainda que não aparente. Ser capaz de
tirar todo o potencial do HNI mesmo em uma simulação imóvel é uma
capacidade e tanto."
"Por hoje vocês irão fazer apenas exercícios de ações
cotidianas, mas apartir de amanhã terão introdução a manobras
profissionais, para as quais os nanorobôs que agora vocês possuem
são necessários."
Ainda que não falassem, os candidatos estavam visivelmente agitados
aos olhos do instrutor Nigel Steel. Mexiam as pernas e mãos em
atitudes de ansiedade ou mesmo temor. Mesmo que não houvesse
excessão àquele nervosismo, o homem de olhos treinados conseguiu
construir alguns palpites sobre alguns dos que poderiam a ter um bom
desempenho. Era ali que se começaria o processo de separar os
inadequados dos nacidos para a carreira de Soldado Delta:
― Irei agora iniciar o programa de todos vocês de maneira
simultânea. ― disse Nigel. ― Desejo boa sorte para cada um de
vocês.
"INICIAR"
Ao som da voz do instrutor Steel, Juliana pode ver o ícone de início
da rotina reagir. Depois disso ela teve uma sensação forte de
perder a noção sobre seu próprio corpo. Fechou os olhos quando uma
leve tontura a invadiu e só reabriu quando sentiu sua pernas
novamente. A imagem diante de seus olhos havia mudado completamente.
Estava em uma sala simples com uma mesinha ao centro. As duas
pequenas janelas presentes de um lado da parede mostravam um céu
azulado com nuvens do outro lado. A única porta no aposento estava
fechada.
Era o ambiente simulado. Ela nunca havia jogado muitos games de
realidade virtual, portanto não tinha ainda essa experiência de
trocar de realidade. Provavelmente a maioria dos outros cadetes não
havia estranhado a irrealidade e tontura que ela sentira, pois era
muito comum mesmo para adultos se divertir nesse tipo de
entretenimento.
A primeira coisa que Juliana tentou fazer foi dar um comando para
andar, mas nada aconteceu. Claro, era diferente dos jogos virtuais
onde, ainda que pareça real, o funcionamento é por comando mentais.
Ali ela teria que levar seu corpo virtual a reagir da mesma maneira
que fazia com seu real. Ela simplesmente tentou andar e ficou
satisfeita quando deu o primeiro passo com exatidão.
A jovem caminhou e abriu a porta da sala, que dava para um corredor
com outra porta. Chegando até a outra ela percebeu que estava
trancada e teve que executar um comando simples de destrancar, que
foi efetivo. Atravessando esta segunda passagem, porém, se se viu
diante de um cenário bem diferente da pequena sala de antes.
Uma escada que descia diretamente a uma espécie de galpão
subterrâneo. Parte do espaço era ocupado por largas mesas de
madeira, recheadas de objetos e outra tinha alguns brinquedos de
playground, como escorregador e balanço.
"Neste ambiente serão realizados os exercícios do primeiro
módulo da Rotina de Treinamento Delta. A duração deste exercício
é de quatro horas. A qualquer momento é possível pausar ou sair da
rotina, mas é altamente recomendado executar toda a série de
exercícios sem pausa." disse uma voz feminina que parecia estar
sendo ecoada por um alto falante em alguma parte do galpão. Juliana
desceu e logo a voz voltou a falar falar, lhe instruindo para
realizar a primeira tarefa. Um simples encaixe de duas peças
pequenas de plástico liso. As tarefas seguintes, ainda que fossem
gradualmente se tornando mais complexas, ainda eram muito simples
para qualquer pessoa.
Quando já havia se passado cerca de três horas Juliana foi
instruída a usar os brinquedos do playground para subir, descer,
pular, correr e, se lhe fosse possível, pendurar-se. A ruiva achou
aqui um tanto ridículo, mas como estava sozinha naquele lugar, fez o
ordenado sem hesitar.
A verdade é que a ruiva sentiu um prazer incomum em realizar aquelas
pequenas atividades simplórias. Talvez pelo silêncio que
predominava enquanto estava seguindo as instruções do programa, ou
pelo fato de estar isolada, mas mesmo o simples ato de passar uma
linha pelo buraco de uma agulha lhe fez sorrir.
"Atenção, a rotina está chegando ao fim. Posicione-se em pé
para que seu retorno seja tranquilo" disse a voz feminina no
momento em que Juliana estava se equilibrando sobre uma haste de
ferro da parte mais alta de um brinquedo. A garota saltou dali e
endireitou-se para aguardar o fim do treinamento.
Não demorou muito e um painel com uma quantidade grande de dados
surgisse diante da jovem. Eram informações sobre seu desempenho,
mas não houve tempo para que conseguisse ler muita coisa. A sensação
de irrealidade sobreveio e, no momento seguinte ela viu a tela
principal do sistema operacional dos óculos de novo. Estava relaxada
na poltrona de volta.
Muitas vozes encheram o auditório quando os alunos foram se
ajeitando nas poltronas e levantando. O instrutor Nigel apenas se
sobressaiu para dizer que estavam dispensados para o almoço:
― Cara, mas o que foi aquilo? ― questionou Thales, se juntando a
Mari, Juliana e Leonardo. Os quatro já pareciam ter se habituado a
ir de um lado para outro juntos.
― Eu digo o que foi. Foi ridículo! ― esbravejou Leonardo. ― Me
senti um completo débil, sem conseguir nem abrir uma porta direito.
Que droga!
Juliana, que já estava vagando novamente alheia à conversa,
despertou ao ouvir esse comentário do rapaz:
― Vocês sentiram dificuldade no início? Sabe, mesmo mentes bem
adaptadas ao HNI levam um bocado de tempo para conseguir operar em
uma realidade virtual como essa. ― explicou Mari.
― Então você também ficou desse jeito, garota-gênio? ―
perguntou Léo, parecendo se alegrar com a possibilidade de a outra
ter passado pelo mesmo que ele.
― Na verdade eu não tive problemas com a movimentação mais
grosseira. ― disse a loira. ― Mas quando chegou a hora de
utilizar os dedos para encaixar coisas, pff. Aquilo sim foi
complicado.
― Cara, eu levei uma hora só pra chegar nisso! ― exclamou
Thales, parecendo chocado. ― Eu cai da escada e tudo. Tive que
tentar descer umas cinco vezes até conseguir direito.
― A escada serve para testar nosso domínio da gravidade simulada.
É um desafio e tanto.
― Tô achando que não vamos ser aprovados para ser soldados,
Thales. Se nem isso fomos capazes.
― Nem me fala, Léo. Além disso eu tô morto agora. Poderia comer
uma tonelada de comida e dormir até amanhã.
― Esse uso mais forçado do HNI realmente cansa. ― concordou
Mari. ― Não chegou a estar com sono, mas com certeza uma fome
terrível.
― Sorte que você tem um programinha para esconder as calorias do
que come. ― comentou Leonardo.
― Mari, será que eu e o Léo não vamos poder ser soldados? ―
perguntou Thales, aflito.
― Calma. É normal que seja difícil assim, afinal é um
treinamento real para as capacidade do HNI. Mas, dando um palpite,
todos que foram capazes de ao menos chegar até os exercícios e
realizar um ou dois devem ter controle o bastante para ser um Soldado
Delta. Seria absurdo exigir mais.
― Eu gargalhei quando aquela voz disse para usar o playground. Como
se alguém fosse capaz de pular ou se pendurar depois de passar três
horas naquela tortura. ― riu-se Leonardo, amargo.
― E você como foi, Juliana? ― perguntou o garoto Thales.
Juliana estava com uma expressão bastante perplexa, especialmente
para seu estado natural. Encarou os outros três um por um, antes de
conseguir arranjar uma resposta:
― Normal. . . ― disse, conseguindo
fazer com que deixassem passar desapercebido o seu choque diante dos
comentários dos amigos.
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