segunda-feira, 24 de março de 2014

Capítulo 12: Simulação

Outras opções de leitura
Download e Leitura Online (link direto)
Download (mediafire)
Leitura Online (mediafire)


Disclaimer: “Other World” é uma web-série independente, cuja a autoria pertence à Lilian Kate Mazaki, publicado originalmente no blog http://otherworld-serie.blogspot.com.br

Other World – Capítulo 12
Simulação
por Lilian Kate Mazaki – março 2014


No dia seguinte, ao chegar no auditório da instrução teórica os candidatos se viram diante de um espaço bem diferente do dia anterior. Exatas duzentas poltronas estava arrumadas no espaço que antes estivera vazio. Os jovens foram arrumando suas posições, com os membros dos grupos ficando próximos uns dos outros e posicionando-se ao lado dos acentos. As poltronas eram simples, porém bastante confortáveis e alguns deles repararam que havia um apoio para as pernas, reconhido e travado.
Juliana chegou ao lado da poltrona imediatamente seguinte a de Mari e parou para observar o acento. A primeira coisa que reparou e pareceu não chamar a atenção dos outros era um compartimento anexado ao braço direito da poltrona. Uma pequena gaveta fechada:
― Bom dia, cadetes. ― cumprimentou o instrutor Nigel Steel batendo a porta atrás de si da mesma maneira que havia feito no dia anterior. ― Recebi todos os relatórios de vocês. Todos muito completos.
O homem se postou diante da turma e encarou a multidão. Ele tinha uma postura bem mais animada do que no dia anterior:
― Fizeram muito bem em já escolher seus lugares. Agora, quero que cada um de vocês pegue a caixa que está dentro da gaveta.
Os candidatos ficaram em sua maioria confusos com a ordem, perdendo alguns instantes antes de verificar que havia o compartimento acoplado. Juliana apenas abriu a gaveta e retirou a modesta caixa de papelão de dentro, segurando-a:
― Dentro desta caixa há os acessórios para o início dos treinamentos: um injetor contendo a quantidade padrão de nanorobôs que um soldados precisa ter na corrente sanguínea e um óculos escuro para carregar os programas de simulação neural do Programa Delta. Podem pegar aplicar os nanorobôs no antebraço.
Os jovens abriram suas caixas e encontraram os aplicadores. Um tubo grosso contendo um líquido amarelo encaixado em uma pistola para injetar. Alguns ficaram mais assustado com a ideia do que outros e muitos cochichos e interjeições de preocupação encheram o ar.
Sem hesitar, Juliana levou a ponta do injetor ao antebraço esquerdo e disparou. A dor foi mínima e o líquido amarelo desapareceu do tubo. Uma sensação de formigamento interno se espalhou pelo braço dela por um momento, mas logo foi se tornando imperceptível. Dentre os outros cento e noventa e nove candidatos da turma B apenas Fábio Ivanoff realizou a aplicação sem deter-se por sequer um segundo. Ainda que tenha levado um tempo, logo todos haviam feito o mesmo que Juliana e Fábio:
― Que sensação engraçada. ― comentou Thales depois de aplicar sua dose de nanorobôs.
― Agora, cadetes, podem sentar-se às suas poltronas e recostar. Elas irão inclinar e liberar o recosto para as pernas. Tenham em mãos somente o óculos que estava na caixa. Aqueles que já usam lentes de grau podem deixar seus óculos na gaveta. O óculos de simulação irão ler suas informações de correção e irão aplicar com perfeição, não se preocupem.
Os alunos obedeceram e logo todos estavam recostados, alguns já com os óculos de lentes completamente pretas e opacas no rosto e tantos outros apenas segurando-os.
Nigel ordenou que todos colocassem os óculos e esperassem o sistema dele iniciar. Alguns instantes e um pequeno sistema operacional estava sendo projetado diante dos olhos de cada um dos jovens da turma. Na tela principal haviam apenas duas opções a serem selecionadas "Iniciar/Continuar rotina" e "Desligar". Todos aguardaram em silêncio:
― Escutem com atenção: estes óculos são modernos projetores de realidade virtual que vão dar-lhes plena sensação de estar em outro local e condições, graças ao trabalho conjunto com o HNI de cada um. Nestes ambientes virtuais iremos realizar uma série de exercícios para detectar e aperfeiçoar ao limites as interações de vocês com o sistema.
"Foi por este motivo que pedi as listagens de usos do HNI. Cada um de vocês terá que realizar cada um destes exemplos que me passaram no ambiente virtual."
"Não pensem que destrancar o sistema de segurança de casa será a tão simples quanto normalmente. Vocês terão que realizar isto em um ambiente simulado e irreal, ainda que não aparente. Ser capaz de tirar todo o potencial do HNI mesmo em uma simulação imóvel é uma capacidade e tanto."
"Por hoje vocês irão fazer apenas exercícios de ações cotidianas, mas apartir de amanhã terão introdução a manobras profissionais, para as quais os nanorobôs que agora vocês possuem são necessários."
Ainda que não falassem, os candidatos estavam visivelmente agitados aos olhos do instrutor Nigel Steel. Mexiam as pernas e mãos em atitudes de ansiedade ou mesmo temor. Mesmo que não houvesse excessão àquele nervosismo, o homem de olhos treinados conseguiu construir alguns palpites sobre alguns dos que poderiam a ter um bom desempenho. Era ali que se começaria o processo de separar os inadequados dos nacidos para a carreira de Soldado Delta:
― Irei agora iniciar o programa de todos vocês de maneira simultânea. ― disse Nigel. ― Desejo boa sorte para cada um de vocês.
"INICIAR"










Ao som da voz do instrutor Steel, Juliana pode ver o ícone de início da rotina reagir. Depois disso ela teve uma sensação forte de perder a noção sobre seu próprio corpo. Fechou os olhos quando uma leve tontura a invadiu e só reabriu quando sentiu sua pernas novamente. A imagem diante de seus olhos havia mudado completamente.
Estava em uma sala simples com uma mesinha ao centro. As duas pequenas janelas presentes de um lado da parede mostravam um céu azulado com nuvens do outro lado. A única porta no aposento estava fechada.
Era o ambiente simulado. Ela nunca havia jogado muitos games de realidade virtual, portanto não tinha ainda essa experiência de trocar de realidade. Provavelmente a maioria dos outros cadetes não havia estranhado a irrealidade e tontura que ela sentira, pois era muito comum mesmo para adultos se divertir nesse tipo de entretenimento.
A primeira coisa que Juliana tentou fazer foi dar um comando para andar, mas nada aconteceu. Claro, era diferente dos jogos virtuais onde, ainda que pareça real, o funcionamento é por comando mentais. Ali ela teria que levar seu corpo virtual a reagir da mesma maneira que fazia com seu real. Ela simplesmente tentou andar e ficou satisfeita quando deu o primeiro passo com exatidão.
A jovem caminhou e abriu a porta da sala, que dava para um corredor com outra porta. Chegando até a outra ela percebeu que estava trancada e teve que executar um comando simples de destrancar, que foi efetivo. Atravessando esta segunda passagem, porém, se se viu diante de um cenário bem diferente da pequena sala de antes.
Uma escada que descia diretamente a uma espécie de galpão subterrâneo. Parte do espaço era ocupado por largas mesas de madeira, recheadas de objetos e outra tinha alguns brinquedos de playground, como escorregador e balanço.
"Neste ambiente serão realizados os exercícios do primeiro módulo da Rotina de Treinamento Delta. A duração deste exercício é de quatro horas. A qualquer momento é possível pausar ou sair da rotina, mas é altamente recomendado executar toda a série de exercícios sem pausa." disse uma voz feminina que parecia estar sendo ecoada por um alto falante em alguma parte do galpão. Juliana desceu e logo a voz voltou a falar falar, lhe instruindo para realizar a primeira tarefa. Um simples encaixe de duas peças pequenas de plástico liso. As tarefas seguintes, ainda que fossem gradualmente se tornando mais complexas, ainda eram muito simples para qualquer pessoa.
Quando já havia se passado cerca de três horas Juliana foi instruída a usar os brinquedos do playground para subir, descer, pular, correr e, se lhe fosse possível, pendurar-se. A ruiva achou aqui um tanto ridículo, mas como estava sozinha naquele lugar, fez o ordenado sem hesitar.
A verdade é que a ruiva sentiu um prazer incomum em realizar aquelas pequenas atividades simplórias. Talvez pelo silêncio que predominava enquanto estava seguindo as instruções do programa, ou pelo fato de estar isolada, mas mesmo o simples ato de passar uma linha pelo buraco de uma agulha lhe fez sorrir.
"Atenção, a rotina está chegando ao fim. Posicione-se em pé para que seu retorno seja tranquilo" disse a voz feminina no momento em que Juliana estava se equilibrando sobre uma haste de ferro da parte mais alta de um brinquedo. A garota saltou dali e endireitou-se para aguardar o fim do treinamento.
Não demorou muito e um painel com uma quantidade grande de dados surgisse diante da jovem. Eram informações sobre seu desempenho, mas não houve tempo para que conseguisse ler muita coisa. A sensação de irrealidade sobreveio e, no momento seguinte ela viu a tela principal do sistema operacional dos óculos de novo. Estava relaxada na poltrona de volta.
Muitas vozes encheram o auditório quando os alunos foram se ajeitando nas poltronas e levantando. O instrutor Nigel apenas se sobressaiu para dizer que estavam dispensados para o almoço:
― Cara, mas o que foi aquilo? ― questionou Thales, se juntando a Mari, Juliana e Leonardo. Os quatro já pareciam ter se habituado a ir de um lado para outro juntos.
― Eu digo o que foi. Foi ridículo! ― esbravejou Leonardo. ― Me senti um completo débil, sem conseguir nem abrir uma porta direito. Que droga!
Juliana, que já estava vagando novamente alheia à conversa, despertou ao ouvir esse comentário do rapaz:
― Vocês sentiram dificuldade no início? Sabe, mesmo mentes bem adaptadas ao HNI levam um bocado de tempo para conseguir operar em uma realidade virtual como essa. ― explicou Mari.
― Então você também ficou desse jeito, garota-gênio? ― perguntou Léo, parecendo se alegrar com a possibilidade de a outra ter passado pelo mesmo que ele.
― Na verdade eu não tive problemas com a movimentação mais grosseira. ― disse a loira. ― Mas quando chegou a hora de utilizar os dedos para encaixar coisas, pff. Aquilo sim foi complicado.
― Cara, eu levei uma hora só pra chegar nisso! ― exclamou Thales, parecendo chocado. ― Eu cai da escada e tudo. Tive que tentar descer umas cinco vezes até conseguir direito.
― A escada serve para testar nosso domínio da gravidade simulada. É um desafio e tanto.
― Tô achando que não vamos ser aprovados para ser soldados, Thales. Se nem isso fomos capazes.
― Nem me fala, Léo. Além disso eu tô morto agora. Poderia comer uma tonelada de comida e dormir até amanhã.
― Esse uso mais forçado do HNI realmente cansa. ― concordou Mari. ― Não chegou a estar com sono, mas com certeza uma fome terrível.
― Sorte que você tem um programinha para esconder as calorias do que come. ― comentou Leonardo.
― Mari, será que eu e o Léo não vamos poder ser soldados? ― perguntou Thales, aflito.
― Calma. É normal que seja difícil assim, afinal é um treinamento real para as capacidade do HNI. Mas, dando um palpite, todos que foram capazes de ao menos chegar até os exercícios e realizar um ou dois devem ter controle o bastante para ser um Soldado Delta. Seria absurdo exigir mais.
― Eu gargalhei quando aquela voz disse para usar o playground. Como se alguém fosse capaz de pular ou se pendurar depois de passar três horas naquela tortura. ― riu-se Leonardo, amargo.
― E você como foi, Juliana? ― perguntou o garoto Thales.
Juliana estava com uma expressão bastante perplexa, especialmente para seu estado natural. Encarou os outros três um por um, antes de conseguir arranjar uma resposta:
Normal. . . ― disse, conseguindo fazer com que deixassem passar desapercebido o seu choque diante dos comentários dos amigos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário