Disclaimer:
“Other World” é uma web-série independente, cuja a autoria
pertence à Lilian Kate Mazaki, publicado originalmente no blog
http://otherworld-serie.blogspot.com.br
Other
World – Capítulo 4
Pedra
no sapato de uma organização internacional
por Lilian Kate Mazaki – julho
2013
Mari Ritcher era uma jovem de treze
anos, cabelos e olhos claros, sorriso simpático e modos contidos.
Era tida por todos, sejam familiares, professores ou colegas de
classe, como uma menina pacífica e admirável. Seus tios já a
vislumbravam dentro de alguns anos em profissões como administração
ou direito. Qualquer área onde uma pessoa “boa” poderia se
encaixar.
Mas todos estavam enganados sobre
aquela jovem.
No submundo das redes de computador
anônimas e secretas, onde os piores criminosos trocavam informações
e planejavam atos contra governos, Mari, sob o pseudônimo de “Star
Joker”, tinha uma fama muito maior do que poderia se esperar de
alguém com tão pouca idade. Suas habilidades de programação e
cracking já eram alvo de comentários entre autoridades de todos os
continentes. Uma entidade de tamanha credibilidade entre os invasores
de sistemas que foi um choque quando o boato de que o hacker fora
encontrado e preso se espalhou pelos fóruns.
Em uma tarde de outono a mãe de Mari
foi interrompida do processo de preparar a massa de um bolo pelo
toque na campainha. Qual não foi seu estupor quando, ao abrir a
porta, uma dúzia de policiais armados e com escudos de proteção
invadiram seu apartamento. Ela foi jogada contra uma mesinha e ficou
sem ação até que percebeu que eles caminhavam em direção aos
quartos:
― Esperem! Seus animais, minha filha
está aí dentro, não façam nada!
Os policiais avançaram sem hesitar,
arrombando com violência a porta do quarto da direita do pequeno
corredor. Alguns entraram, outros deram cobertura ainda do corredor,
mas todos apontaram as armas na direção da garota que os observava
da cadeira de rodinhas, à frente de dois largos monitores:
― Não se mova, Mari Ritcher! Temos
ordens para levá-la conosco sob a acusação de crimes cibernéticos
de classe A! ― vociferou um dos agentes. Neste momento a mãe da
garota chegou até eles, sem conseguir passar ou enxergar se algo
acontecia dentro do aposento.
― Vocês estão loucos?! Estão
acusando minha menina de treze anos de crimes?! Eu vou processar cada
um de vocês!
Enquanto isso, Mari apenas encarava as
armas de fogo apontadas para si, com um sorriso que poderia ser
entendido como de deboche:
― Finalmente, rapazes.
Ainda que sob protestos, gritos e
agressões da genitora de Mari, os policiais conduziram a garota
pelas escadarias do edifício e a trancaram no banco de trás de um
carro blindado. Carro este que exibia os brasões e siglas da
Organização Mundial de Exploração do Outro Mundo em ambas as
laterais. Não houve resistência da acusada, pelo contrário, o
agente que dirigia o veículo e observava através do vidro espelhado
percebeu uma certa ansiedade nos traços joviais da criminosa.
Duas horas mais tarde, Mari Ritcher se
encontrava em uma sala de alta segurança, na sede da OMM. Estava
sentada em uma cadeira de metal, fria, diante de uma mesa vazia e
aguardava, enquanto se perguntava em que estado de nervos estariam
seus inocentes pais, ao descobrir os feitos nada bonitos de sua filha
única:
― Você é realmente diferente do
que eu imaginaria, “Star Joker”. ― disse um homem alto e de
feições duras, ao adentrar na sala. Ele fechou e trancou a porta
atrás de si. Encarou por um tempo a menina, antes de se dirigir até
a cadeira de frente para a acusada.
― Que honra, ser interrogada por
Gustavo Barbosa em pessoa. ― comentou Mari, sorrindo com um tom de
desafio. O homem, de cabelos e barba no queixo castanha a analisou
por algum tempo antes de falar.
― Não
vou perder tempo com papo furado de direitos. Somos só eu e você
aqui e. . .
― E todos os agentes, engenheiros e
pessoal acompanhando tudo através das filmagens. ― corrigiu Mari,
sem deixar o homem concluir a frase. Gustavo a encarou com um tanto
mais de exasperação.
― Você invadiu os sistemas vitais
do servidor da base humana no Outro Mundo, bloqueou dados e ameaçou
a OMM de destruir todas as informações e sistemas de gerenciamento
da base se não pagássemos dez bilhões de dolares em 'resgate'. ―
disse o homem com ímpeto. ― Você acha que tem alguma chance de
sair dessas paredes em liberdade nos próximos trinta anos?
― Como você é agressivo, Gustavo.
― comentou a garota, com um sorrisinho.
― Me chame de General Barbosa! ―
vociferou o homem, batendo com as mãos na mesa.
― General? Realmente a OMM está
ultrapassando os limites entre o cívil e militar, não é mesmo?
― Ficar jogando não vai atrasar sua
condenação. ― disse Gustavo com a voz baixa.
Mari parou de sorrir e encarou o homem
de meia idade que a observava com fúria:
― O resgate era um blefe. Eu
precisava chamar a atenção de vocês substancialmente.
― Chamar a atenção? ― a quebra
na expressão irritada de Gustavo deixou clara sua surpresa à
afirmação de Mari. A mesma considerou isto um passo positivo.
― Sim, além disso, precisava deixar
alguma brecha para que seus hackers conseguissem me localizar.
Infelizmente a presença de softwares meus dentro do seu servidor não
foi o bastante para que tivessem qualquer pista, então recorri a
coisas mais simplórias.
― Você queria ser encontrada? ―
Mari concluiu que Gustavo não era capaz de perceber a própria
expressão de total perplexidade que exibia. A garota continuou sua
fala com a mesma calma de antes.
― Isso.
Eu planejei tudo isto para poder estar aqui, nessa sala, com você.
Sabe, conhecendo seus estilo de gerenciamento, presumi que num caso
de tamanha gravidade você fosse exigir ser meu interrogador. Então
fiquei de olho na sua agenda e planejei as coisas para que eles
chegassem a mim quando você estivesse na cidade. Como você viaja! ―
reclamou a jovem, relembrando a parte que achava mais entediante
daquela “operação”.
Gustavo também não percebeu que
ficou com a boca aberta, ouvindo a menina diante de si demonstrar
toda a engenhosidade do seu plano:
― Está surpreso, General? ―
desafiou Mari, retomando seu sorriso. ― Você acha mesmo que alguém
que já expôs toda a base de dados ultrassecretos do governo
americano, jogando tudo em todos os principais portais de notícia do
mundo sem deixar qualquer rastro cometeria um erro primário?
― Por que. . . Por que fez tudo
isso? O que você quer da OMM?
― Oh, essa é a parte mais
interessante, Gustavo, digo, General Barbosa! Eu não quero nada tão
difícil, na verdade, mas que só você pode fazer por mim. ― disse
Mari, tomando o cuidado de demonstrar respeito de maneira
evidentemente cínica.
― Do que está falando? Eu não vou
fazer nada por uma criminosa! ― exasperou-se o general, sacudindo
os braços com força, como se quisesse descarregar ao impulso de
socar a garota.
― Calma, você nem me ouviu. . .
― Então desembucha de uma vez!
― Eu quero fazer parte da OMM.
― Mas o que. . .
Nesse momento a discussão foi
interrompida por dias batidas na porta. Gustavo sabia que
praticamente ninguém teria coragem de interrompê-lo. Somente uma
pessoa que ele conhecia de longa data faria tal ousadia. O general
levantou-se e destrancou a fechadura com um estalo. Antes que pudesse
abrir a porta completamente, a mesma foi empurrada pelo lado de fora
e outro homem entrou.
― Então aí está você, Mari!
Estive ansioso! ― disse o homem magro, de cabelos castanho
arruivados e olhos verdes. Ele se aproximou da mesa, ignorando a
expressão de exasperação do General Barbosa e se postou diante da
jovem acusada. Ajeitou os óculos de aros grossos antes de voltar a
falar.
― Você não aparenta ser a
cibercriminosa que é. ― comentou.
― E você parece exatamente o
cientista maluco que é, doutor. . . ― começou Mari, mas Gustavo
interrompeu.
― Jonny! O que está fazendo aqui?
― Dr. Jonny Lake. ― completou Mari
e o ruivo lhe sorriu.
― Gustavo, nós podemos dar a chance
que esta jovem pede. ― disse, finalmente encarando o outro homem.
― Está me dizendo para deixar esta
criminosa livre?
― Não exatamente. Podemos usá-la
aos nossos propósitos. Primeiramente para limpar a bagunça no
servidor da base no Outro Mundo. Depois podemos colocá-la na equipe
de desenvolvimento avançado dos setores alpha e gama. Pense bem,
Gustavo!
Mari apenas observava os outros dois.
Sabia que o fato do mais importante pesquisador da OMM ter tomado seu
lado significava que seu plano fora um completo sucesso.
― Jonny. . . Eu não sei se isso é
uma boa ideia.
― Olha, Gustavo, deixe ela por minha
conta. Faltam ainda oito meses até o início do Programa de
Treinamento, ela pode nos ajudar com muita coisa. E, pense por esse
lado também, é melhor ter uma mente brilhante sob nossos olhos, do
que fazendo o mal aí fora.
― Você tem sempre ideias
controversas, amigo.
― Ideias controversas que também
serão nosso triunfo em breve, já esqueceu?
Os dois se encararam por algum tempo,
como se terminassem aquele diálogo em pensamento. O que era bastante
possível, pois com os sistemas neurais integrados, era bastante
provável que estivessem trocando mensagens no meio do silêncio que
se instaurou no ambiente. Por fim, os dois se voltaram para a garota.
Jonny sorria e Gustavo mantinha ainda seu ar áspero:
― Prepare-se para ir à base no
Outro Mundo, consertar toda a merda que fez lá, Star Joker. ―
declarou o General Barbosa, que ainda parecia bastante contrariado
com aquela resolução.
Saudações
ResponderExcluirMuito intrigante, Mazaki.
No aguardo do próximo capítulo.^^
Até mais!