segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Capítulo 4 - Pedra no sapato de uma organização internacional

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Disclaimer: “Other World” é uma web-série independente, cuja a autoria pertence à Lilian Kate Mazaki, publicado originalmente no blog http://otherworld-serie.blogspot.com.br

Other World – Capítulo 4
Pedra no sapato de uma organização internacional
por Lilian Kate Mazaki – julho 2013

Mari Ritcher era uma jovem de treze anos, cabelos e olhos claros, sorriso simpático e modos contidos. Era tida por todos, sejam familiares, professores ou colegas de classe, como uma menina pacífica e admirável. Seus tios já a vislumbravam dentro de alguns anos em profissões como administração ou direito. Qualquer área onde uma pessoa “boa” poderia se encaixar.

Mas todos estavam enganados sobre aquela jovem.

No submundo das redes de computador anônimas e secretas, onde os piores criminosos trocavam informações e planejavam atos contra governos, Mari, sob o pseudônimo de “Star Joker”, tinha uma fama muito maior do que poderia se esperar de alguém com tão pouca idade. Suas habilidades de programação e cracking já eram alvo de comentários entre autoridades de todos os continentes. Uma entidade de tamanha credibilidade entre os invasores de sistemas que foi um choque quando o boato de que o hacker fora encontrado e preso se espalhou pelos fóruns.

Em uma tarde de outono a mãe de Mari foi interrompida do processo de preparar a massa de um bolo pelo toque na campainha. Qual não foi seu estupor quando, ao abrir a porta, uma dúzia de policiais armados e com escudos de proteção invadiram seu apartamento. Ela foi jogada contra uma mesinha e ficou sem ação até que percebeu que eles caminhavam em direção aos quartos:

Esperem! Seus animais, minha filha está aí dentro, não façam nada!

Os policiais avançaram sem hesitar, arrombando com violência a porta do quarto da direita do pequeno corredor. Alguns entraram, outros deram cobertura ainda do corredor, mas todos apontaram as armas na direção da garota que os observava da cadeira de rodinhas, à frente de dois largos monitores:

Não se mova, Mari Ritcher! Temos ordens para levá-la conosco sob a acusação de crimes cibernéticos de classe A! ― vociferou um dos agentes. Neste momento a mãe da garota chegou até eles, sem conseguir passar ou enxergar se algo acontecia dentro do aposento.

Vocês estão loucos?! Estão acusando minha menina de treze anos de crimes?! Eu vou processar cada um de vocês!

Enquanto isso, Mari apenas encarava as armas de fogo apontadas para si, com um sorriso que poderia ser entendido como de deboche:

Finalmente, rapazes.




Ainda que sob protestos, gritos e agressões da genitora de Mari, os policiais conduziram a garota pelas escadarias do edifício e a trancaram no banco de trás de um carro blindado. Carro este que exibia os brasões e siglas da Organização Mundial de Exploração do Outro Mundo em ambas as laterais. Não houve resistência da acusada, pelo contrário, o agente que dirigia o veículo e observava através do vidro espelhado percebeu uma certa ansiedade nos traços joviais da criminosa.

Duas horas mais tarde, Mari Ritcher se encontrava em uma sala de alta segurança, na sede da OMM. Estava sentada em uma cadeira de metal, fria, diante de uma mesa vazia e aguardava, enquanto se perguntava em que estado de nervos estariam seus inocentes pais, ao descobrir os feitos nada bonitos de sua filha única:

Você é realmente diferente do que eu imaginaria, “Star Joker”. ― disse um homem alto e de feições duras, ao adentrar na sala. Ele fechou e trancou a porta atrás de si. Encarou por um tempo a menina, antes de se dirigir até a cadeira de frente para a acusada.

Que honra, ser interrogada por Gustavo Barbosa em pessoa. ― comentou Mari, sorrindo com um tom de desafio. O homem, de cabelos e barba no queixo castanha a analisou por algum tempo antes de falar.

Não vou perder tempo com papo furado de direitos. Somos só eu e você aqui e. . .

E todos os agentes, engenheiros e pessoal acompanhando tudo através das filmagens. ― corrigiu Mari, sem deixar o homem concluir a frase. Gustavo a encarou com um tanto mais de exasperação.

Você invadiu os sistemas vitais do servidor da base humana no Outro Mundo, bloqueou dados e ameaçou a OMM de destruir todas as informações e sistemas de gerenciamento da base se não pagássemos dez bilhões de dolares em 'resgate'. ― disse o homem com ímpeto. ― Você acha que tem alguma chance de sair dessas paredes em liberdade nos próximos trinta anos?

Como você é agressivo, Gustavo. ― comentou a garota, com um sorrisinho.

Me chame de General Barbosa! ― vociferou o homem, batendo com as mãos na mesa.

General? Realmente a OMM está ultrapassando os limites entre o cívil e militar, não é mesmo?

Ficar jogando não vai atrasar sua condenação. ― disse Gustavo com a voz baixa.

Mari parou de sorrir e encarou o homem de meia idade que a observava com fúria:

O resgate era um blefe. Eu precisava chamar a atenção de vocês substancialmente.

Chamar a atenção? ― a quebra na expressão irritada de Gustavo deixou clara sua surpresa à afirmação de Mari. A mesma considerou isto um passo positivo.

Sim, além disso, precisava deixar alguma brecha para que seus hackers conseguissem me localizar. Infelizmente a presença de softwares meus dentro do seu servidor não foi o bastante para que tivessem qualquer pista, então recorri a coisas mais simplórias.

Você queria ser encontrada? ― Mari concluiu que Gustavo não era capaz de perceber a própria expressão de total perplexidade que exibia. A garota continuou sua fala com a mesma calma de antes.

Isso. Eu planejei tudo isto para poder estar aqui, nessa sala, com você. Sabe, conhecendo seus estilo de gerenciamento, presumi que num caso de tamanha gravidade você fosse exigir ser meu interrogador. Então fiquei de olho na sua agenda e planejei as coisas para que eles chegassem a mim quando você estivesse na cidade. Como você viaja! ― reclamou a jovem, relembrando a parte que achava mais entediante daquela “operação”.

Gustavo também não percebeu que ficou com a boca aberta, ouvindo a menina diante de si demonstrar toda a engenhosidade do seu plano:

Está surpreso, General? desafiou Mari, retomando seu sorriso. ― Você acha mesmo que alguém que já expôs toda a base de dados ultrassecretos do governo americano, jogando tudo em todos os principais portais de notícia do mundo sem deixar qualquer rastro cometeria um erro primário?

Por que. . . Por que fez tudo isso? O que você quer da OMM?

Oh, essa é a parte mais interessante, Gustavo, digo, General Barbosa! Eu não quero nada tão difícil, na verdade, mas que só você pode fazer por mim. ― disse Mari, tomando o cuidado de demonstrar respeito de maneira evidentemente cínica.

Do que está falando? Eu não vou fazer nada por uma criminosa! ― exasperou-se o general, sacudindo os braços com força, como se quisesse descarregar ao impulso de socar a garota.

Calma, você nem me ouviu. . .

Então desembucha de uma vez!

Eu quero fazer parte da OMM.

Mas o que. . .

Nesse momento a discussão foi interrompida por dias batidas na porta. Gustavo sabia que praticamente ninguém teria coragem de interrompê-lo. Somente uma pessoa que ele conhecia de longa data faria tal ousadia. O general levantou-se e destrancou a fechadura com um estalo. Antes que pudesse abrir a porta completamente, a mesma foi empurrada pelo lado de fora e outro homem entrou.

Então aí está você, Mari! Estive ansioso! ― disse o homem magro, de cabelos castanho arruivados e olhos verdes. Ele se aproximou da mesa, ignorando a expressão de exasperação do General Barbosa e se postou diante da jovem acusada. Ajeitou os óculos de aros grossos antes de voltar a falar.

Você não aparenta ser a cibercriminosa que é. ― comentou.

E você parece exatamente o cientista maluco que é, doutor. . . ― começou Mari, mas Gustavo interrompeu.

Jonny! O que está fazendo aqui?

Dr. Jonny Lake. ― completou Mari e o ruivo lhe sorriu.

Gustavo, nós podemos dar a chance que esta jovem pede. ― disse, finalmente encarando o outro homem.

Está me dizendo para deixar esta criminosa livre?

Não exatamente. Podemos usá-la aos nossos propósitos. Primeiramente para limpar a bagunça no servidor da base no Outro Mundo. Depois podemos colocá-la na equipe de desenvolvimento avançado dos setores alpha e gama. Pense bem, Gustavo!

Mari apenas observava os outros dois. Sabia que o fato do mais importante pesquisador da OMM ter tomado seu lado significava que seu plano fora um completo sucesso.

Jonny. . . Eu não sei se isso é uma boa ideia.

Olha, Gustavo, deixe ela por minha conta. Faltam ainda oito meses até o início do Programa de Treinamento, ela pode nos ajudar com muita coisa. E, pense por esse lado também, é melhor ter uma mente brilhante sob nossos olhos, do que fazendo o mal aí fora.

Você tem sempre ideias controversas, amigo.

Ideias controversas que também serão nosso triunfo em breve, já esqueceu?

Os dois se encararam por algum tempo, como se terminassem aquele diálogo em pensamento. O que era bastante possível, pois com os sistemas neurais integrados, era bastante provável que estivessem trocando mensagens no meio do silêncio que se instaurou no ambiente. Por fim, os dois se voltaram para a garota. Jonny sorria e Gustavo mantinha ainda seu ar áspero:

Prepare-se para ir à base no Outro Mundo, consertar toda a merda que fez lá, Star Joker. ― declarou o General Barbosa, que ainda parecia bastante contrariado com aquela resolução.

Um comentário:

  1. Saudações

    Muito intrigante, Mazaki.
    No aguardo do próximo capítulo.^^

    Até mais!

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