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Disclaimer:
“Other World” é uma web-série independente, cuja a autoria
pertence à Lilian Kate Mazaki, publicado originalmente no blog
http://otherworld-serie.blogspot.com.br
Other
World – Capítulo 13
A
Seleção
por Lilian Kate Mazaki – março
2014
Mais uma vez a Instrução Prática foi mais tranquila do que a
teórica, no segundo dia de treinamento dos futuros Soldados Delta. A
instrutora Nadia Rock ocupou a tarde e início da noite dos recrutas
com explicações das táticas desenvolvidas para a exploração do
Outro Mundo. Posicionamentos e tarefas distintas existentes nos
conceituais grupos de exploração que iriam varrer grandes distância
pela atmosfera hostil para encontrar novas posições para a
construção de bases.
O grande objetivo da OMM era constituir uma rede de base interligadas
que pudesse expandir em muito a visão e conhecimento da raça humana
sobre aquele lugar inóspito. Foi revelado aos jovens que as torres
de observação da base central já haviam sido capazes de visualizar
um local a quilômetros dali onde havia uma mudança de bioma do
desértico monótono para uma espécie de floresta. Provavelmente o
Outro Mundo tinha recursos naturais a serem descobertos:
― Instrutora Rock. ― chamou Thales quando a mulher falou sobre
isto. ― Mas se existe uma floresta ela é feita de plantas
completamente diferentes das da Terra, não? Será que não existem
também animais diferentes?
Apesar de soar um tanto besta, a pergunta de Thales pareceu refletir
uma curiosidade da maioria dos recrutas da Turma B, que murmuraram em
concordância e indagação:
― Esta hipótese não é descartada, recruta Thales Dickens. Mas
também não é muito creditada. Pois em cinquenta anos nunca foi
avistado de sinal de qualquer forma de vida animal no Outro Mundo. ―
explicou a instrutora Nadia, dirigindo-se também a todos os que
demonstraram curiosidade. ― Porém são vocês os únicos capazes
de sanar essa questão, quando estiverem atuando na exploração
deste lugar.
Foi somente quando os relógios sincronizados com os presentes do
outro lado do portal, na grande cidade onde ficava a sede da OMM,
marcaram vinte horas que os jovens foram dispensados para o jantar. O
refeitório do bloco B ficou ainda mais barulhento naquela noite do
que na anterior, porém, diferente de antes, rapidamente os recrutas
se retiraram para o descanso.
Mari e Juliana chegaram no seu quarto e a programadora logo foi tomar
um banho. Quando retornou ela encontrou Juliana sentada na prórpai
cama, com um livro fechado entre as mãos. Esse foi o segundo sinal
que ela captou naquele dia que a levou a puxar sua cadeira de
rodinhas e sentar-se de frente para a orfã:
― Aconteceu alguma coisa no treinamento da manhã, Julie? A sua
expressão quando nós estávamos falando sobre ele foi incomum pra
você. ― questionou a loira, encarando o rosto abaixado da outra.
― Nada de anormal. ― respondeu Juliana, sem tirar os olhos da
capa do livro que segurava.
― Você consegue ser pior em mentir do que é em se comunicar. ―
concluiu Mari, com um sorriso. A outra enfim ergueu o rosto e encarou
a esta.
― É que. . . Eu não tive essa dificuldade que vocês falaram. Foi
tudo bem normal. ― disse.
Mari piscou e franziu a testa, refletindo sobre o que ouvira.
Recordou-se da tarde no salão de estudos, onde Juliana fora capaz de
utilizar o HNI para inserir cinco frases simultaneamente em um
documento. As possibilidade começaram a clarear na mente da hacker:
― Você conseguiu interagir com o ambiente virtual sem dificuldade,
é isso? Conseguiu mesmo realizar as tarefas de precisão?
― Todas elas. Antes de começar a parte dos brinquedos.
As sobrançelhas de Mari se ergueram:
― E conseguiu usar os brinquedos. ― disse, mais afirmando do que
perguntando.
― Sim. Até me equilibrei nas hastes de ferro. Com um só pé.
O queixo de Mari caiu. Sua boca aberta foi se moldando em um grande
sorriso de admiração e perplexidade:
― Isso é. . . espantoso, com certeza. Eu, mesmo com todo o uso que
sempre fiz do HNI para programar e jogar, não consegui ter ânimo
para fazer mais do que descer do escorregador uma vez. Isso que
acabei sem terminar boa parte dos exercícios manuais. ― contou
ela, assombrada. ― Você fez tudo?
― Sim. ― confirmou Juliana. ― Será que tinha algo errado com
meu programa de simulação?
― Não. ― respondeu Mari, hipnotizada. ― Foi você. Julie, você
tem uma capacidade muito acima da padrão. Não entendo como é
possível, mas é isso. Talvez tenha alguma coisa haver com a
genialidade do seu pai, mas fato é que você tem um talento com a
HNI que mal dá para acreditar.
― Então vou me tornar um Soldado Delta.
― Você está querendo isso, não é? ― riu-se Mari Ritcher,
ainda impressionada. ― Você vai sim, Julie. Talvez um dos melhores
dos Soldados Delta.
Juliana não soube o que dizer a isto e desviou o olhar para fintar
qualquer coisa na sua estante abarrotada de livros. Mari percebeu a
volta da barreira de sempre da outra e se afastou na cadeira,
voltando-se para seu computador. Naquele momento o Programa de
Treinamento dos Soldados Delta havia se tornado mais interessante
para a hacker que antes não tinha nenhuma vontade de cooperar.
A rotina do dia seguinte foi anunciada como a última antes que a
filtragem dos candidatos que iriam seguir com o treinamento prático
fosse realizada. Seguindo os mesmos moldes da anterior, esta rotina
se passava em um ambiente virtual realista, só que desta vez as
atividades propostas exigiam mais esforço e movimento. Eram saltos e
utilização de força e agilidade só possíveis através da
interação do traje de soldado com HNI e os nanorobôs.
Juliana, assim como todos os outros, ficou um tempo admirando sua
própria imagem vestindo o traje de soldado Delta. Ainda que fosse
apenas virtual, naquele momento era a realidade da orfã. Em alguns
minutos ela estava executando saltos cada vez mais altos, muito mais
do que um ser humano poderia sozinho. O potencial físico que aquela
interação tecno-biológica era imenso e a ruiva conseguia a cada
exercício tirar mais dessa combinação. O ápice do treinamento foi
quando o tempo já estava quase chegando ao final e a voz feminina do
sistema anunciou:
"Prepare-se, o último exercício é também um desafio. Um
carro pesando quase uma tonelada será jogado em sua direção. O
exercício consiste em ser capaz de utilizar a força do Sistema
Delta para bloquear ou neutralizar o impacto desse veículo contra
você. Atenção, você não poderá desviar-se."
― Caramba. ― exclamou Juliana genuinamente surpresa com a
revelação do desafio. Ainda que seus pés não estivessem colados
ao solo, ela teve certeza de que se tentasse se afastar mais do que o
necessário para tentar vencer o desafio, teria seu movimento detido.
Se concentrou e respirou fundo. Um som sinalizador foi ouvido.
E por cima do muro do local onde estava realizando a rotina um
automóvel surgiu, lançado perfeitamente em sua direção. Tudo
aconteceu muito rápido, o carro vindo e Juliana preparando para
tentar um contragolpe que parecia suicídio: um soco, contra quase
uma tonelada. Ela não tinha opção a não ser depositar toda a sua
fé no Sistema Delta.
Ainda sabendo que era seguro, Juliana Lake sentiu o peso da morte na
boca do estômago, no último instante.
Mas seu ataque funcionou, perfeitamente. Um impacto muito forte se
deu entre sua mão protegida pelo traje e o carro e este desviou
grosseiramente para cima, passando por cima da cabeça da jovem,
caindo a mais de dez metros de distância. Juliana ficou com o braço
esticado a guiza do soco, fumaça saindo da sua mão protegida. Não
houve dor, ou qualquer ferimento. Seus ossos estavam inteiros.
Pareceu absurdo aos olhos da própria que realizara aquele feito.
Mas, principalmente, havia espalhado uma adrenalina e felicidade
tremendos por todo seu corpo. Uma sensação de poder que jamais
havia experimentado antes. Foi como acender uma chama dentro de um
local frio e escondido.
Juliana Lake sentiu-se maravilhosamente viva, mesmo dentro daquela
realidade virtual.
A rotina de treinamento foi encerrada e todos os alunos da turma B
saíram conversando a plenos pulmões. Estavam todos extasiados com
seus feitos na simulação. Muitos contavam a risadas os seus
fracassos, para o divertimento dos amigos. Dessa vez Leonardo e
Thales haviam tido um desempenho bem melhor do que no dia anterior. A
surpresa do grupo foi que Mari tinha sido um completo desastre:
― Vocês tem que entender. Ainda que seja uma simulação ela é
realista a ponto de levar em consideração fatores físicos
precisos. E, bom, eu nunca gostei de educação física. ― explicou
a programadora, sem parecer se importar muito com aquele resultado.
― Então uma vez na vida poderei me gabar que superei a gênio que
já trabalha na OMM com treze anos, Mari Ritcher. ― riu-se
Leonardo, que pareceu se preocupar bastante em demonstrar sua
superioridade para Juliana. Já esta não estava ligando muito para a
conversa.
Na tarde daquele dia, duas listagens foram colocadas na parede do
salão da Instrução Prática. Eram as listas que definiam quem iria
seguir para o treinamento de soldado e quem ficaria apenas na parte
teórica. Entre os mil jovens divididos em cinco turmas, um total de
duzentos e quarenta e dois haviam sido selecionados para o
treinamento dos Delta:
― Léo! Nós conseguimos! Nós conseguimos mesmo cara! ― berrou
Thales, que estava às lágrimas, abraçando o amigo que tentava se
fazer de durão.
― Você ficou mesmo de fora, Mari. ― comentou Juliana.
― Graças aos céus, você quer dizer. Mas ó, eu não disse que cê
ia estar dentro? Era certeza! ― disse a loira, apontando para o
sobrenome Lake, discreto no meio da listagem.
― Eu consegui! Mano! Eu consegui! Vou ser um soldado! ― exclamou
Fernando, aos pulos.
― Matheus, parece que vamos mesmo ficar juntos nessa! ― disse
Tiago, batendo no braço do amigo, animado com a aprovação. ― Meu
pai vai ficar tão orgulhoso!
― Parabéns irmão. ― disse Daniel Ivanoff. O nome dos dois
estavam juntos na lista dos futuros Soldados Delta.
― Isso é o mínimo esperado para nós, Daniel. Não fique tão
orgulhoso de uma coisa tão pequena. ― disse Fábio, insípido.
― Se tivesse uma lista de desaprovados com honra, com certeza eu
estaria no topo. ― comentou Milene Wood.
― Pelo menos eram esses nossos planos, não é Milene? ―
perguntou João Motta, que estava bastante feliz com o resultado.
― Acho que já podemos formar um time de desaprovados. ― disse
Sara Silveira. ― Você pode ficar conosco, Carla.
― Que bom! ― exclamou a baixinha Carla Steins, que também não
havia conseguido permissão para seguir como o treinamento árduo dos
Soldados Delta.
Juliana permaneceu algum tempo observando seu nome na listagem, sem
dar bola para a conversa dos que agora eram seus amigos. Um
sentimento morno preenchia seu peito. Estava orgulhosa de si mesma.
Sabia que dali em diante só viria desafios maiores, mas estava
colocando toda a sua esperança no Treinamento. Aquela era a sua
chance de não viver mais na escuridão dos seus sentimentos
doloridos.
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